Terminou nesta quinta-feira (12), o VI Encontro Nacional da Rede de Sementes Agroecológicas Bionatur. O evento, reuniu 250 agricultores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais no assentamento Roça Nova, em Candiota (RS), no Território da Cidadania Zona Sul do Estado, durante três dias.
Segundo o integrante da direção da Bionatur, Amarildo Zanovello, o encontro fortaleceu a entidade e serviu para planejar a ampliação do número de famílias dispostas a produzir sementes agroecológicas. "Essa alternativa de renda permite escoar a produção para agricultores que querem ingressar em projetos sociais como a merenda escolar, Fome Zero e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que priorizam a agricultura familiar, orgânica e da reforma agrária", explica.
Defesa da agroecologia
Ademar Bairros, morador do assentamento Estância do Fundo, em Candiota, participou do encontro e é defensor da agroecologia. Natural de Alpestre (RS), sofreu intoxicação por defensivos agrícolas. "Tive tontura e tremor por causa da lavoura. Fui vendo que o veneno fazia mal e eu tinha guri pequeno para criar".
Ao ser beneficiado pela reforma agrária, em 2000, Ademar decidiu abandonar os agroquímicos. Junto com o filho Ortiz, de 24 anos, produz leite e sementes de hortaliças e forrageiras em um lote de 20 hectares. A cebola é a cultura mais lucrativa, pois rende mais de 150 quilos por hectare e cada quilo é vendido por R$ 25. "Vale a pena porque o custo é baixo, então não dá prejuízo mesmo em ano de seca como este. Mas o melhor é não usar veneno", afirma.
Troca de experiências
Marino De Bortoli, um dos coordenadores do Centro de Educação e Pesquisa Popular Agroecológica (CEPPA), localizado no assentamento Roça Nova, ressaltou a interação entre técnicos e agricultores durante o evento.
Além dos brasileiros, um grupo vinculado à Red Semillas, Instituto Nacional de Investigación Agropecuária (INIA) e Universidad de la Republica Oriental del Uruguai, também esteve no evento. "São parceiros da Bionatur e vieram trazer a experiência uruguaia", frisou De Bortoli.
Coletivo
A Bionatur é uma rede de assentados produtores de sementes ecológicas iniciada em 1997, quando 12 famílias da Campanha Gaúcha (Pampa) resolveram gerar sua própria matéria-prima. "Era uma forma de reduzir os custos, aumentar o lucro e preservar o ambiente", explica o engenheiro agrônomo Eitel Dias Maicá, responsável técnico pela entidade.
O avanço mundial do consumo de alimentos orgânicos exigiu o cultivo de plantas sem agroquímicos industriais desde a origem. Inserida nessa tendência, a Bionatur cresceu, aumentou o mercado e o número de integrantes. Em 2005, o Incra investiu R$ 350 mil na construção de uma Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS) que passou a operar no ano seguinte.
Atualmente, a organização possui 20 grupos com cerca de 200 assentados nos três estados do Sul e em Minas Gerais. O catálogo apresenta 60 variedades de hortaliças, além de flores, milho, feijão, soja e forrageiras em fase inicial de comercialização. A capacidade de produção da cooperativa é de 20 toneladas anuais, sendo que o lucro líquido para os agricultores é de R$ 6 mil a R$ 8 mil por hectare ao ano, calcula Maicá.
A meta da Bionatur é expandir os núcleos de produção para todas as regiões do Rio Grande do Sul, Oeste catarinense e Distrito Federal. Desta forma será possível ampliar as variedades oferecidas e a atuação no mercado.
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