terça-feira, 31 de julho de 2012

Ibama restringe agrotóxicos por causa de abelhas

Desaparecimento de abelhas pode estar ligado ao uso de inseticidas na
agropecuária brasileira

DE BRASÍLIA
Mesmo na ausência de levantamentos oficiais, alguns registros sobre a redução do
número de abelhas em várias partes do País, em decorrência de quatro tipos de
agrotóxico, levaram o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) a restringir o uso de importantes inseticidas na
agropecuária brasileira, principalmente para as culturas de algodão, soja e
trigo.

Além de reduzir as formas de aplicação desses produtos, que não podem ser mais
disseminados via aérea, o órgão ambiental iniciou o processo de reavaliação das
substâncias imidacloprido, tiametoxam, clotianidina e fipronil. Esses
ingredientes ativos foram apontados em estudos e pesquisas realizadas nos
últimos dois anos pelo Ibama como nocivos às abelhas.

Segundo o engenheiro Márcio Rodrigues de Freitas, coordenador-geral de Avaliação
e Controle de Substâncias Químicas do Ibama, a decisão não foi baseada apenas na
preocupação com a prática apícola, mas, principalmente, com os impactos sobre a
produção agrícola e o meio ambiente.

A primeira substância a passar pelo processo de reavaliação será o
imidacloprido, que responde por cerca de 60% do total comercializado dos quatro
ingredientes sob monitora-mento. A medida afeta, neste primeiro momento, quase
60 empresas que usam a substância em suas fórmulas. Dados divulgados pelo Ibama
revelam que, em 2010, foram comercializadas mais de 1,9 mil toneladas do
ingrediente no País.

A reavaliação é consequência das pesquisas que mostraram a relação entre o uso
desses agrotóxicos e a mortandade das abelhas. De acordo com Freitas, nos casos
de mortandade identificados, o agente causal era uma das substâncias que estão
sendo reavaliadas. Além disso, em 80% das ocorrências, havia sido feita a
aplicação aérea.

O engenheiro explicou que a reavaliação deve durar pelo menos 120 dias e vai
apontar o nível de nocividade e onde está o problema. "É o processo de
reavaliação que vai dizer quais medidas precisaremos adotar para reduzir riscos.
Podemos chegar à conclusão de que precisa banir o produto totalmente, para
algumas culturas ou apenas as formas de aplicação ou a época em que é aplicado e
até a dose usada", acrescentou.

Mesmo com as restrições de uso já em vigor, tais como a proibição da aplicação
aérea e o uso das substâncias durante a florada, os produtos continuam no
mercado. Juntos, os agrotóxicos sob a mira do Ibama respondem por cerca de 10%
do mercado de inseticidas no País. Mas existem culturas e pragas que dependem
exclusivamente dessas fórmulas, como o caso do trigo, que não tem substituto
para a aplicação aérea.

Na quarta-feira, o órgão ambiental já sentiu as primeiras pressões por parte de
fabricantes e produtores que alertaram os técnicos sobre os impactos econômicos
que a medida pode causar, tanto do ponto de vista da produção quanto de
contratos já firmados com empresas que fazem a aplicação aérea.

Freitas disse que as reações da indústria são naturais e explicou que o trabalho
de reavaliação é feito em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e com o Ministério da Agricultura - órgãos que também são
responsáveis pela autorização e registro de agrotóxicos no Brasil. "Por isso
vamos levar em consideração todas as variáveis que dizem respeito à saúde
pública e ao impacto econômico sobre o agronegócio, sobre substitutos e ver se
há resistência de pragas a esses substitutos e seus custos", explicou o
engenheiro.

No Brasil, a relação entre o uso dessas substâncias nas lavouras e o
desaparecimento de abelhas começou a ser identificada há pouco mais de quatro
anos. O diagnóstico foi feito em outros continentes, mas, até hoje, nenhum país
proibiu totalmente o uso dos produtos, mesmo com alguns mantendo restrições
rígidas.

Na Europa, de forma geral, não é permitida a aplicação aérea desses produtos. Na
Alemanha, esse tipo de aplicação só pode ser feito com autorização especial. Nos
Estados Unidos, a aplicação é permitida, mas com restrição na época de floração.
Os americanos também estão reavaliando os agrotóxicos compostos por uma das
quatro substâncias.