segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Intoxicação pelas folhas verdes de fumo preocupa produtores e médicos


A doença do tabaco verde (GTS – Green Tobacco Sickness), que atinge de 53% a 88% dos trabalhadores nas plantações de fumo da Índia, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), será alvo de investigações mais profundas no Brasil, a fim de medir sua incidência entre as famílias de fumicultores do país e, com isso, poder orientar melhor produtores e profissionais da saúde quanto aos cuidados e tratamentos administrados na rede pública. Com base em estudos preliminares, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf-Brasil) já considera essa uma doença ocupacional das plantações de tabaco, causada pelo manuseio e exposição à nicotina liberada pelas folhas verdes de fumo durante a fase de colheita. Dores de cabeça, náuseas, tonturas, vômitos, fadiga, alterações repentinas de pressão e câimbras musculares são os principais sintomas da doença, registrados na literatura médica mundial. As pesquisas sobre o tema dão conta de que a concentração de nicotina na urina dos pacientes pode aumentar em até três vezes nessa época de intensa atividade produtiva.

Há muito, os agricultores se queixam de mal estar no período de colheita, quando também trabalham exaustivamente para cumprir as metas de produção e, ao procurarem atendimento médico com os sintomas da doença, os fumicultores são orientados a abandonarem a colheita de tabaco sob o risco de agravar ainda mais o quadro de debilidade. “E o pior é que para fugirem da responsabilidade de orientar ou mesmo indenizar os trabalhadores que são integrados a elas, as indústrias fumageiras negam a existência da enfermidade”, alerta o assessor técnico da Fetraf e membro da Câmara Setorial do Fumo, Albino Gewehr.

Desde 2003, a Federação, para embasar cientificamente a defesa dos trabalhadores, promove estudo de casos sobre a doença e, em parceria com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), foram investigadas as causas de intoxicação e mal estar que acometem os agricultores na época da colheita do fumo nos municípios de Arapiraca, em Sergipe, e Candelária, no Rio Grande do Sul. Amostras de urina de vários grupos de produtores foram submetidas à analise laboratorial. Em Candelária, RS, foram confirmados 33 dos 46 casos suspeitos e a dosagem de nicotina encontrada na urina dos pacientes não fumantes chegou a índices até seis vezes maiores que os encontrados no organismo de uma pessoa não fumante comum e mais até que um fumante possui normalmente. Esses índices são mais alarmantes entre os fumicultores consumidores de cigarros, podendo chegar a 16 vezes mais que a concentração de nicotina encontrada na urina de uma fumante comum.

Safra está no final e Ministério da Saúde não efetuou mudanças a tempo

Em todo o país, existem mais de 700 municípios produtores de tabaco. A maior parte deles está localizada na região Sul, que possui 186 mil agricultores que plantam fumo. Ao constatar a doença, o MS decidiu adotar uma série de providências internas, como ampliar a investigação epidemiológica para mais municípios produtores de tabaco, distribuir orientações ao sistema de saúde, a fim de qualificar o diagnóstico da doença do tabaco verde, estabelecer um protocolo de sintomas e cuidados a serem tomados e também realizar campanha de esclarecimento voltada aos agricultores.

Mas a morosidade do poder público em colocar em prática as suas decisões faz com que as orientações, cuidados e normas não cheguem a tempo de preservar a saúde de milhares de agricultores que plantam fumo em todo o país. A safra 2009/2010 está praticamente no final. O período de colheita, que vai de novembro a fevereiro, até sofreu atrasos e os produtores acumularam perdas da ordem de 25% a 40% por contas das fortes chuvas que atingiram e ainda atingem as áreas produtoras nessa época. Mas a colheita do fumo encontra-se em fase de finalização nos municípios tardios, nas regiões de serras.

O secretário geral da Fetraf-Brasil, Marcos Rochinski, reclama que, hoje, em plena colheita de tabaco, as queixas continuam e as novas investigações estão emperradas. “O sistema público de saúde desconhece o protocolo para diagnóstico e nem mesmo a campanha de esclarecimento chegou aos agricultores” lamenta. Ele também levanta a possibilidade de o poderio das multinacionais do tabaco ter conseguido barrar a efetivação dessas medidas. “Se não for isso, só podemos acreditar que a demora é devida à falta preocupação com a saúde de 900 mil pessoas envolvidas com o cultivo do fumo no Brasil”, afirma Rochinski.

ONGs e universidades empenhadas em garantir a proteção dos trabalhadores

A Fetraf-Brasil decidiu apoiar pesquisas de ONGs e universidades, interessadas em investigar a situação, para agilizar o processo de entendimento da doença e, com isso, acelerar o esclarecimento dos trabalhadores e da população em geral. Albino Gewehr informa que técnicos da Fetraf já foram a campo para coletar amostras de cabelo, que serão encaminhadas para a Universidade Johns Hopkins de Baltimore, nos Estados Unidos, que fará análises residuais de absorção de nicotina durante a colheita do fumo. “Com as amostras de cabelo teremos um histórico melhor da absorção de nicotina durante a colheita”, explica Gewehr. “Cada centímetro de cabelo equivale a um mês de vida. Sendo assim, poderemos detalhar o que ocorreu nos últimos meses”, diz. A análise da urina só identificava a contaminação ocorrida dentro de poucas horas.

A universidade norteamericana sedia o Instituto Global de Controle da Ação das Multinacionais do Tabaco, que se uniu à Fetraf e à Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) com a finalidade de realizar esses estudos e garantir, o mais rápido que for possível, as informações sobre as quais se apoiarão as ações de proteção dos trabalhadores da produção de fumo.

Jornalista: Thea Tavares – MTb 3207/PR

Contatos : Albino Gewehr – assessor técnico Fetraf/Brasil

albino@fetrafsul.org.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o JavaScript terá de estar activado para que possa visualizar o endereço de email – (51) 9818 0707 -

Fonte:http://www.fetrafsul.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=460&Itemid=1

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

UNAIC Comercializa 14.500kg de Sementes Crioulas na Safra 2009/2010.


A UNAIC está fechando a vendas de sementes crioulas e varietais da safra 2009/2010, com uma comercialização recorde de 14.500 kg de Sementes.
“Se considerarmos a média de plantio de 15 kg por hectares chegaremos à marca de quase 1.000 hectares plantados”. Comemora Marcos Fanka, coordenador técnico do projeto de produção de sementes da UNAIC.
A marca de comercialização registrada em 2009 é histórica, já que superou todos os índices das safras anteriores. O Presidente da UNAIC, André dos Santos enfatiza que esse recorde “Estabelece a confiabilidade e o reconhecimento dos produtores da região na qualidade das sementes que são produzidas, beneficiadas e comercializadas pela UNAIC”.
Nesta safra a UNAIC estabeleceu como meta a disseminação das sementes crioulas, para uma área geográfica cada vez maior, para isso foram estabelecidas parcerias de comercialização através de prefeituras, sindicatos e cooperativas da região, alem da venda direta aos agricultores.
Em parceria com a Fundação Banco do Brasil - FBB a UNAIC realizou doações de sementes para comunidades tradicionais como as indígenas e quilombolas, alem de assentados da reforma agrária.
O principal objetivo dessas ações foi criar novos nichos de resistência das sementes crioulas buscando a reprodução das espécies já que neste período o Brasil anuncia a entrada no mercado de um numero superior de Sementes de Milho geneticamente modificadas (transgênicos), do que de sementes hibridas ou comuns, e esse tem sido um motivo de preocupação da equipe da UNAIC, já que Canguçu sedia uma das principais representações da Empresa Monsanto no RS, e que é uma das principais.
A equipe da UNAIC tem acompanhado com preocupação o avanço do cultivo das sementes de milho transgênico na região, e tem buscado estabelecer o dialogo com os produtores para que o avanço da produção desse tipo de sementes respeite pelo menos as regras de isolamento que são estabelecidas pela legislação brasileira, tentando com isso evitar a contaminação das lavouras crioulas.
A UNAIC ainda dispõe de sementes para venda, informações poderão ser adquiridas pelos telefones: 53- 3252.1011 / 3252.3444 ou no e-mail: uniaoass@gmail.com .

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Proibida capina com agrotóxicos nas cidades

A capina química em áreas urbanas expõe a população ao risco de intoxicação, além de contaminar a fauna e a flora local. Por esse motivo, tal prática não é permitida. Para orientar municípios de todo país sobre os perigos do uso de agrotóxicos nas cidades, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou, nesta segunda-feira (1), nota técnica sobre o tema.

“Esse esclarecimento está sendo efetuado devido ao recebimento de inúmeras denúncias sobre a realização dessa prática ilegal e questionamentos da sociedade sobre a real necessidade da pulverização desses produtos químicos em ruas, calçadas, praças e parques das cidades”, diz Dirceu Barbano, diretor da Anvisa. Devido à ausência de segurança toxicológica, desde 2003 a Agência não permite a aplicação de herbicidas em ambientes urbanos.

De acordo com Barbano, a prática de capina química cria dificuldades técnicas na conciliação da aplicação do agrotóxico em ambientes urbanos e a preservação da saúde da população das cidades. “Os herbicidas indicados para o uso urbano seriam os mesmos utilizados na agricultura, os quais possuem regras restritas para manipulação, aplicação e acesso posterior às áreas tratadas”, explica o diretor da Anvisa.

Todos os produtos registrados para uso agrícola possuem, como regra, um período de reentrada mínimo de 24 horas, ou seja, após a aplicação do produto, a área deve ser isolada e sinalizada e, no caso de necessidade de entrada no local durante este intervalo, o uso de equipamentos de proteção individual é obrigatório. Esse período de reentrada é necessário para impedir que pessoas entrem em contado com o agrotóxico aplicado, ainda molhado, o que aumenta muito o risco de intoxicação.

“Em ambientes urbanos, o completo e perfeito isolamento de uma área por pelo menos 24 horas é impraticável, isto é, não há meios de assegurar que toda a população seja adequadamente avisada sobre os riscos que corre ao penetrar em um ambiente com agrotóxicos, principalmente em se tratando de crianças, analfabetos e deficientes visuais”, pondera Barbano. Outro aspecto são os solos da cidade, que, na maior parte, sofrem compactação ou são asfaltados, ocasionando a persistência dos produtos por mais tempo no ambiente urbano, ao contrário dos solos agrícolas, que são permeáveis, diminuindo o acúmulo e facilitando o escoamento superficial do produto.

“A capina tem sido realizada rotineiramente por meio mecânico em vários municípios do Brasil, o que, além de não expor a população a riscos desnecessários, é ecologicamente correto e gera um grande número de empregos”, finaliza o diretor da Anvisa. Vale lembrar que mesmo após a aplicação de herbicidas, é necessário realizar a capina mecânica para se retirar a vegetação seca.

Danilo Molina – Imprensa/Anvisa