A riqueza biológica não esta distribuída uniformemente pelo globo terrestre. Ela se concentra nos países tropicais do terceiro mundo. Contudo, a maioria dos planos para conservação da Biodiversidade tem sua origem em países do norte e trazem em seu bojo categorias sociais de desenvolvimento e planejamento de países industrializados e afluentes (SHIVA, 1992).

A agricultura de subsistência cultiva as principais plantas alimentícias há mais de 10.000 anos privá-los desse recurso é, pelo menos, uma perversidade, porque as sementes crioulas são originárias das seleções dos agricultores. Proibi-los da reprodução destas variedades é roubar a herança de milênios. As famílias de agricultores protegerão melhor nossos recursos genéticos vegetais que os bancos de genes. O acesso ao material genético é um direito natural da Humanidade, Não tem dono. Muitos agricultores familiares, já abriram seus olhos, e começam a proteger suas sementes, buscando a independência em relação as grandes corporações. O plantio das sementes crioulas (tradicionais) remete o agricultor novamente as suas raízes. A semente não representa somente o grão, mas também toda a cultura perdida desde a
implantação da revolução verde. É neste sentido que temos que trabalhar o valor das coisas simples como solidariedade, esperança e trabalho. Não se busca o retrocesso, mas independência da agricultura familiar, buscando intercambio entre as facilidades de trabalho da modernidade e a sustentabilidade e auto-suficiência alimentar que foram as marcas do pequeno agricultor.

Como vemos esta pratica de transformação não é benéfica para agricultura familiar, pois está deixando um espaço muito grande entre o pequeno agricultor e o agronegócio, o acesso as sementes fica sobre o controle das grandes empresas que colocam nelas o preço que querem, dificultando o acesso dos pequenos agricultores, que não tem como enfrentar o poder das grandes empresas ficando elas com a maior fatia e o controle da tecnologia em suas mãos para barganhar tornando- se desta maneira absolutas dentro de seus objetivos que são o lucro e o aumento do seu capital.
Com base nessas constatações a produção de Sementes Crioulas na UNAIC começou a ser realizada em setembro de 1994, motivados pela assessoria técnica das entidades parceiras da UNAIC, Pastoral Rural da Igreja Católica e CAPA - Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, entidade que é ligada a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB. O programa passa então a receber também o apoio da EMBRAPA, que contribuiu com o programa através da realização de troca de material genético entre a empresa e os agricultores.
No ano de 1997, foi criado o banco Comunitário de Sementes, que tem como objetivo promover a troca de cultivares entre os agricultores e consequentemente a reprodução e preservação dessas variedades.
Em 1999 a produção de sementes crioulas de Milho e Feijão passa a ser um programa institucional da UNAIC, para isso foi realizado o cadastro junto ao antigo Departamento de Produção Vegetal - DPV do governo do Estado do Rio Grande do Sul, que oficializa a UNAIC como produtora de sementes, com isso a UNAIC passa a buscar e atender novos mercados de comercialização dentre os quais se destacaram a comercialização de sementes via o programa Troca Troca do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, que propiciou o acesso de Comunidades tradicionais como as Indígenas e Quilombolas além de Assentados da Reforma Agrária a essas sementes.
No ano de 2001 a UNAIC recebe através de um programa do governo do Estado do Rio Grande do Sul, uma Unidade de Beneficiamento de Sementes - UBS, que foi a primeira da América Latina a processar grãos, e também sendo a primeiras e únicas UBS na América Latina a ser administrada exclusivamente por agricultores familiares. Essa UBS foi inaugurada em Agosto de 2002, na ocasião da realização da 1ª Feira Estadual de Sementes Crioulas e Tecnologias Populares que tinha como principais objetivos, a divulgação do trabalho de preservação de sementes realizado em Canguçu, além de possibilitar trocas de experiências de produção de Sementes Crioulas de todo o Estado, além desses objetivos a Feira despertou na comunidade local a importância da preservação e conservação da biodiversidade, A Feira já foi realizada em outras duas oportunidades sendo a 2ª edição em 2004 e a 3ª edição em 2006, evento que reuniu mais de 20.000 pessoas e discutiu a necessidade da preservação da biodiversidade como um projeto de desenvolvimento sustentável.
Em 2005, com a mudança da Lei de Sementes a UNAIC e com o repasse da responsabilidade de credenciamento da produção de Sementes do DPV, para o Ministério da Agricultura, foi necessário refazer todo o processo de recadastramento junto a esta instituição.
Ao longo desses 14 anos de projeto a UNAIC já conseguiu, resgatar e reproduzir 19 cultivares de Semente de Milho, 7 cultivares de semente de feijão , 2 cultivares de semente trigo e 4 cultivares de Sementes de Adubação Verde Crioulas.
Porém somente a partir de 2004 conseguimos produzir sementes em quantidade suficiente para garantir a comercialização das mesmas. Hoje já estamos produzindo e
comercializando 11 cultivares de milho crioulo: Argentino Branco, Argentino Amarelo, Cunha, Caiano Rajado, Caiano Amarelo, Lombo Baio, Amarelão, Branco Dentado, Bagualão, Branco Índio e Oito Carreiros e ainda variedades de milho varietal sendo elas: BRS Missões, Al 25, Brs 451, F35, Al 30 e Planalto, além de 3 cultivares de Feijão sendo Guapo Brilhante, Valente, FTNobre.
Atualmente nossa produção média de sementes é de 40 toneladas, O programa emprega em torno de 150 pessoas que estão envolvidas diretamente na preservação e reprodução das sementes Crioulas, e também na produção de Sementes Varietais (Sementes Crioulas que foram melhoradas em pesquisas e seleção de campo, pela EMBRAPA em parceria com os agricultores da UNAIC).As ações do projeto têm beneficiado diretamente 40 famílias de agricultores familiares, e indiretamente inúmeras famílias de agricultores familiares, assentados de reforma agrária, quilombolas e demais povos tradicionais que tem adquirido as sementes crioulas produzidas e comercializadas pela UNAIC.
Com base nos resultados que já alcançamos, acreditamos que a preservação das sementes crioulas é uma ação estratégica na construção de um novo modelo produtivo.