Desaparecimento de abelhas pode estar ligado ao uso de inseticidas na
agropecuária brasileira
DE BRASÍLIA
Mesmo na ausência de levantamentos oficiais, alguns registros sobre a redução do
número de abelhas em várias partes do País, em decorrência de quatro tipos de
agrotóxico, levaram o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) a restringir o uso de importantes inseticidas na
agropecuária brasileira, principalmente para as culturas de algodão, soja e
trigo.
Além de reduzir as formas de aplicação desses produtos, que não podem ser mais
disseminados via aérea, o órgão ambiental iniciou o processo de reavaliação das
substâncias imidacloprido, tiametoxam, clotianidina e fipronil. Esses
ingredientes ativos foram apontados em estudos e pesquisas realizadas nos
últimos dois anos pelo Ibama como nocivos às abelhas.
Segundo o engenheiro Márcio Rodrigues de Freitas, coordenador-geral de Avaliação
e Controle de Substâncias Químicas do Ibama, a decisão não foi baseada apenas na
preocupação com a prática apícola, mas, principalmente, com os impactos sobre a
produção agrícola e o meio ambiente.
A primeira substância a passar pelo processo de reavaliação será o
imidacloprido, que responde por cerca de 60% do total comercializado dos quatro
ingredientes sob monitora-mento. A medida afeta, neste primeiro momento, quase
60 empresas que usam a substância em suas fórmulas. Dados divulgados pelo Ibama
revelam que, em 2010, foram comercializadas mais de 1,9 mil toneladas do
ingrediente no País.
A reavaliação é consequência das pesquisas que mostraram a relação entre o uso
desses agrotóxicos e a mortandade das abelhas. De acordo com Freitas, nos casos
de mortandade identificados, o agente causal era uma das substâncias que estão
sendo reavaliadas. Além disso, em 80% das ocorrências, havia sido feita a
aplicação aérea.
O engenheiro explicou que a reavaliação deve durar pelo menos 120 dias e vai
apontar o nível de nocividade e onde está o problema. "É o processo de
reavaliação que vai dizer quais medidas precisaremos adotar para reduzir riscos.
Podemos chegar à conclusão de que precisa banir o produto totalmente, para
algumas culturas ou apenas as formas de aplicação ou a época em que é aplicado e
até a dose usada", acrescentou.
Mesmo com as restrições de uso já em vigor, tais como a proibição da aplicação
aérea e o uso das substâncias durante a florada, os produtos continuam no
mercado. Juntos, os agrotóxicos sob a mira do Ibama respondem por cerca de 10%
do mercado de inseticidas no País. Mas existem culturas e pragas que dependem
exclusivamente dessas fórmulas, como o caso do trigo, que não tem substituto
para a aplicação aérea.
Na quarta-feira, o órgão ambiental já sentiu as primeiras pressões por parte de
fabricantes e produtores que alertaram os técnicos sobre os impactos econômicos
que a medida pode causar, tanto do ponto de vista da produção quanto de
contratos já firmados com empresas que fazem a aplicação aérea.
Freitas disse que as reações da indústria são naturais e explicou que o trabalho
de reavaliação é feito em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e com o Ministério da Agricultura - órgãos que também são
responsáveis pela autorização e registro de agrotóxicos no Brasil. "Por isso
vamos levar em consideração todas as variáveis que dizem respeito à saúde
pública e ao impacto econômico sobre o agronegócio, sobre substitutos e ver se
há resistência de pragas a esses substitutos e seus custos", explicou o
engenheiro.
No Brasil, a relação entre o uso dessas substâncias nas lavouras e o
desaparecimento de abelhas começou a ser identificada há pouco mais de quatro
anos. O diagnóstico foi feito em outros continentes, mas, até hoje, nenhum país
proibiu totalmente o uso dos produtos, mesmo com alguns mantendo restrições
rígidas.
Na Europa, de forma geral, não é permitida a aplicação aérea desses produtos. Na
Alemanha, esse tipo de aplicação só pode ser feito com autorização especial. Nos
Estados Unidos, a aplicação é permitida, mas com restrição na época de floração.
Os americanos também estão reavaliando os agrotóxicos compostos por uma das
quatro substâncias.
terça-feira, 31 de julho de 2012
Ibama restringe agrotóxicos por causa de abelhas
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