sexta-feira, 8 de julho de 2011

Revista especial do Instituto Humanitas da Unisinos, entrevista maiores especialistas em agrotoxicos, agroecologia.

Editorial da revista Humanitas- da Unisinos-  nr. 368 ano XI. 4 julho 2011

Agrotóxicos. Pilar do agronegócio

Enquanto uma área de floresta amazônica, do tamanho de 180 campos de futebol, é destruída pela ação de herbicidas, uma parcela da população brasileira grita "agrotóxicos, nunca mais!" Entender o contexto do uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras brasileiras e seus efeitos diversos é o objetivo do tema de capa da IHU On-Line desta semana. É possível cultivar alimentos sem o uso de herbicidas? Em busca desta e de outras respostas, nossos entrevistados refletem também sobre os rumos da agricultura no Brasil e sobre o modelo de agronegócio empregado no país.

Por: IHU On-Line

O engenheiro agrônomo Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib, considera possível desenvolver uma agricultura sustentável por meio do manejo ambiental, sem utilizar agrotóxicos. Enquanto isso, o médico Wanderlei Pignati alerta que não existe uso seguro de agrotóxicos, e que é impossível estar imune a esses produtos. Por sua vez, o professor de Economia e Administração da USP, José Juliano de Carvalho, é enfático quando afirma que "o uso de agrotóxicos no Brasil é abusivo, exagerado e incontrolável".

Já a gerente de normatização e reavaliação da Anvisa, Letícia Rodrigues da Silva, reconhece que reavaliação de agrotóxicos no Brasil ainda faz parte de um processo lento, frágil e nebuloso.

Quem também contribui com o debate é o agrônomo Rubens Nodari, para quem "é preciso desconstruir essa concepção criada de que a produção agrícola dependia do uso de agrotóxicos".

Leia nesta edição uma entrevista com o pesquisador Erick Felinto, que avalia como as tecnologias modificaram e impactaram a sociedade nos últimos anos.

Maria Aparecida Marques da Rocha, professora do curso de Serviço Social da Unisinos, fala sobre seu livro recém lançado Processo de Inclusão Ilusória: a condição do jovem bolsista universitário (Jundiaí: Paco Editora, 2011).

"Os contornos e nuances de uma mídia regulamentada: um caminho mais democrático" é o tema do artigo de Aléxon Gabriel João.

O jornalista e professor da Unisinos, Ronaldo Henn, conta aspectos sobre sua trajetória de vida e profissional.

A próxima edição da revista IHU On-Line será publicada no dia 01 de agosto de 2011.

(A todas e a todos uma boa semana, um ótimo mês de julho e uma excelente leitura!)

Agricultura brasileira é deficiente

De acordo com o engenheiro agrônomo Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib, da Unicamp,é possível desenvolver uma agricultura sustentável por meio do manejo ambiental, sem utilizar agrotóxicos

Por: Graziela Wolfart e Patricia Fachin

Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib assinou, juntamente com outros pesquisadores, um relatório que acusa a Monsanto de saber, há mais de 30 anos, que o herbicida Round-Up provoca anomalias congênitas. O professor da Unicamp estuda os efeitos dos agrotóxicos na saúde e no meio ambiente desde a década de 1970 e afirma que testes feitos com o glifosato, princípio ativo do Round-Up, "mata qualquer criatura de origem vegetal, (...) causa problemas de desenvolvimento embrionário, atinge células de tecidos do corpo humano e prejudica o desenvolvimento das crianças".

Em entrevista à IHU On-Line por telefone, Mostafa Habib menciona ainda que a transgenia, outro ramo de atividades da empresa, também causa impactos à saúde humana. "Realizamos testes em animais de laboratório com a ração fabricada a partir da soja transgênica e soja não transgênica. Observamos impactos negativos no desenvolvimento dos ovários e do sistema reprodutor dos animais", relata.

Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib é graduado em Engenharia Agronômica e mestre em Entomologia (Controle Biológico) pela Universidade de Alexandria, Egito, e doutor em Ciências Biológicas (Entomologia) pela Unicamp. Além de lecionar na instituição, ele é pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp.

Confira a entrevista.


IHU On-Line – O senhor assina, juntamente com outros pesquisadores, o relatório de pesquisa que acusa a multinacional de agroindústria e biotecnologia Monsanto de saber, desde 1980, que o herbicida Round-Up – cujo princípio ativo é o glifosato – provocaria anomalias congênitas. Pode nos dar mais detalhes sobre o relatório? Como esta pesquisa foi realizada?

Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib –
Minha carreira começou em 1964. Portanto, tenho 47 anos de experiência. Nesse período, pesquisei os efeitos negativos do agrotóxico na saúde e no meio ambiente de países agrícolas.

A Monsanto, dona e produtora do defensivo Roundup, sempre trabalhou para dominar o mercado. Portanto, o investimento da empresa em transgenia é justamente para fazer do Roundup  um produto a ser vendido no mundo inteiro.

O glifosato, diferentemente do que a Monsanto vem dizendo e diferentemente daquilo que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio  entendeu quando aprovou a produção e a comercialização, é um produto de largo espectro tóxico, ou seja, mata qualquer criatura de origem vegetal. Ele ainda é tóxico para o ser humano e causa problemas de desenvolvimento embrionário, atinge células de tecidos do corpo humano e prejudica o desenvolvimento das crianças.

Todas as pesquisas e levantamentos científicos feitos concluíram que o mundo precisa conhecer a realidade da soja transgênica e as origens do glifosato. Realizamos testes em animais de laboratório com a ração fabricada a partir da soja transgênica e soja não transgênica. Observamos impactos negativos no desenvolvimento dos ovários e do sistema reprodutor dos animais. Portanto, a soja transgênica precisa ser retirada do mercado imediatamente. As pesquisas de transgenia precisam continuar a desenvolver técnicas mais seguras para a saúde e o meio ambiente.

Também é preciso rever o impacto do glifosato. Quando o Brasil não cultivava transgênico e estabelecia, pela lei, o máximo de 0,2 partes por milhão de glifosato na soja, a Monsanto pressionou o governo e quis, numa primeira instância, mudar a lei para permitir até 100 partes por milhão. Entretanto, em função das pressões da sociedade, a lei permitiu ter 10 partes por milhão de glifosato nos grãos da soja. Isso significa 50 vezes mais o valor que era permitido anteriormente.

Os grãos da soja de hoje têm um teor de glifosato superior àquele que existia antes. Portanto, mesmo com a introdução da transgenia, o Brasil não ganhou nada.


IHU On-Line – Além do uso de agrotóxicos, que outras medidas podem ser tomadas para o controle biológico das lavouras?

Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib –
O controle biológico é uma das medidas, mas nós podemos trabalhar para que haja um manejo ambiental do próprio ecossistema e da lavoura. Por meio do manejo ambiental é possível cultivar a diversidade vegetal. Cada vez que se tem diversidade na composição da flora, consegue-se ter uma riqueza na diversidade faunística. A partir disso, alcança-se o equilíbrio ecológico natural, que acaba automaticamente mantendo as populações das pragas sob o nível ou abaixo do nível que poderia causar algum dano econômico.

A ciência mostrou que o conceito de agricultura convencional de monocultura, de tirar do mapa toda a complexidade vegetal que existia e substituí-la por uma única cultura, não é sustentável.
Hoje, o mundo procura uma agricultura sustentável e este novo modelo não pode ficar dependente de fertilizantes, agrotóxicos. É preciso investir em uma produção mais saudável para o meio ambiente e para o homem que cultiva e que consome. Nesse sentido, é possível fazer uso de métodos de controle biológico natural, aproveitando a riqueza da fauna. Nós temos de preservar o ambiente para que os inimigos naturais (pragas) que ocorrem naturalmente no ambiente possam estar seguros na propriedade para trabalhar a favor da agricultura.

Também é possível utilizar o controle biológico aplicado, ou seja, é possível liberar os inimigos naturais para fazer o controle microbiano aplicado, aplicando bactérias, fungos. Igualmente, existe o conceito de preservação e de investimento cada vez maior na diversidade biológica da propriedade rural. É preciso partir para rotações agrícolas, policultivos nas propriedades para ter uma estabilidade econômica maior.

É fundamental realizar pesquisas para definir o zoneamento agrícola brasileiro e verificar quais são as condições agrícolas de cada região do país. Dentro desse zoneamento, é preciso ter um plano governamental para otimizar as condições de cada região. Não é possível plantar soja desde o Rio Grande do Sul até o Amazonas; isso é ridículo. Portanto, cada região do Brasil deve identificar a sua vocação, a sua coerência e ver como ela se manifesta na cultura local.


IHU On-Line – Como vê a atuação de órgãos responsáveis pela regulação de agrotóxicos em todo o mundo? Quais os maiores dilemas dessas instituições?

Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib –
Não tenho reclamação dos órgãos reguladores que liberam e autorizam o uso dos agrotóxicos. O problema não está nesses órgãos e, sim, no outro lado, que pressiona o trabalho deles. As multinacionais que produzem agrotóxicos desrespeitam a sociedade brasileira e o futuro desse país. Elas utilizam o Brasil para ter retorno financeiro e, hoje, trabalham para retirar da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o poder de opinar sobre os agrotóxicos, que são os maiores inimigos da saúde brasileira.

A academia não tem força para enfrentar as pressões das multinacionais. As empresas têm um lobby fortíssimo no Congresso e estão trabalhando contra os interesses nacionais. Minha preocupação é com a interferência e a influência das multinacionais nos órgãos públicos. A CTNBio é pró-multinacionais e 2/3 da instituição trabalham em prol das multinacionais. Isso é assustador porque a sociedade confia nessas organizações que trabalham na contramão dos interesses nacionais.


IHU On-Line – O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do planeta e ainda permite a utilização de produtos banidos em diversos países. Como entender essa cultura pró-agrotóxicos em nosso país?

Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib –
O que a academia e certos meios de comunicação estão fazendo é o início de um processo, ou seja, temos de continuar conscientizando a sociedade. A transgenia veio para enganar a população. As companhias dizem que os transgênicos consomem menos agrotóxicos, mas acontece o contrário. Os transgênicos consomem mais agrotóxicos do que a cultura convencional anterior.

Precisamos sair em campanhas nas ruas dizendo: "Agrotóxicos nunca mais!". Com isso, podemos pressionar para que as multinacionais comecem a pesquisar e desenvolver produtos alternativos. As empresas não aceitam as propostas das universidades porque jogar veneno nas lavouras é mais fácil. Elas ainda insistem em chamar o agrotóxico de defensivo agrícola, de remédios. Temos que abraçar essa campanha contra os agrotóxicos porque é muito complicado continuarmos desse jeito.


IHU On-Line – Qual a origem e a necessidade de utilizar agrotóxicos no Brasil?

Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib –
O uso de agrotóxicos se disseminou pelo mundo em função da pressão das multinacionais. Quando cheguei ao Brasil, em 1972, pude perceber o que as vendedoras de agrotóxicos faziam: contratavam agrônomos brasileiros para receber um salário por meio de comissão, assim, quanto mais eles vendiam, maior era o rendimento financeiro. Esse comportamento, além de ser antiético, é um crime.
Antigamente, as multinacionais não tinham influência no governo federal, no parlamento brasileiro. Hoje, elas têm lobby no Congresso e aliados em órgãos públicos como na CTNBio. O brasileiro não tinha a cultura de utilizar venenos; isso é influência das multinacionais, que utilizam produtos proibidos em seus países de origem para comercializá-los no Brasil.


IHU On-Line – Em que medida o modelo do agronegócio brasileiro contribui para a cultura do uso de agrotóxicos no Brasil?

Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib –
O modelo do agronegócio brasileiro é arcaico porque se baseia na exportação de grãos, que serve de matéria-prima para os europeus fabricarem ração animal. Se esse setor fosse um pouco mais inteligente, poderia produzir a ração no Brasil e exportar o produto com um valor agregado. Já estou cansado de ver o Brasil exportando matéria-prima e chamar isso de agronegócio; isso é agroburrice, ignorância. Países que buscam o seu desenvolvimento não podem exportar matéria-prima, energia e, muito menos, água. O Brasil está fazendo exatamente isso. E depois, o brasileiro vai para o exterior e volta com dois presentes: um pacote de café solúvel da Alemanha, que não planta nenhum pé de café em seu território; e chocolate suíço, o melhor chocolate do mundo, feito à base de cacau. A Suíça não cultiva nenhum pé de cacau. O Brasil vende essas matérias-primas para ambos.

O que acontece no Brasil é uma atividade agrícola extremamente deficiente, que precisa evoluir. O grão de soja nunca é superior a um real e para produzi-lo, o país gastou no mínimo 200 litros de água. O Brasil já perdeu 95% da Mata Atlântica, mais de 80% do cerrado e 20% da Floresta Amazônica. Será que está valendo a pena vender energia e chamar agroenergia de bioenergia para enganar o povo brasileiro? Não se produz bioenergia com a cana-de-açúcar e com a soja. Já estou cansado desse tipo de tática enganosa.

Dizem que este é o setor que mais cresce, mas também é o setor que mais destrói o país. É um setor que precisa trabalhar com mais inteligência, mais ciência e mais tecnologia.

Não existe uso seguro de agrotóxicos

Mais de 30 tipos de pesticidas proibidos na União Europeia continuam a ser usados no Brasil, como o endosulfan, clorado que se aloja na gordura e, por isso, pode ser encontrado inclusive no leite materno. Mesmo com o uso de EPIs, é impossível estar imune a esses produtos, acentua Wanderlei Pignati

Por: Graziela Wolfart e Márcia Junges

Intoxicações crônicas que, em longo prazo, resultam em câncer, descontrole da tireoide, do sistema neurológico em geral, surdez, diminuição da acuidade visual e até mesmo Mal de Parkinson são possíveis problemas de saúde causados pelos agrotóxicos. De acordo com o médico sanitarista Wanderlei Pignati, quem trabalha com saúde pública não deixa de se perguntar onde foram parar os conteúdos dos temíveis frascos de agrotóxicos. Produtos banidos pela União Europeia continuam a ser usados no Brasil, país do mundo que mais emprega pesticidas em suas lavouras. Por que razão isso continua a ser permitido, questiona Pignati. Onde está o comprometimento com o ambiente, como um todo? A situação é tão grave que, além de serem encontradas nos alimentos, na água, no solo, no ar, essas substâncias foram detectadas, inclusive, no leite materno. Conforme Pignati, na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line, "vários tipos de agrotóxicos se depositam na gordura e muitos deles, como os clorados, nunca mais saem dela. É o caso do endosulfan.
Quando a mulher produz o leite para amamentar seu filho, esse líquido terá agrotóxico em sua composição. Isso porque o leite é composto por 2 a 3% de gordura". Como se isso não fosse assustador o bastante, o médico é categórico ao afirmar que é impossível um uso totalmente seguro dos agrotóxicos. Mesmo que sejam usados equipamentos de proteção individual pelos trabalhadores que fazem as aplicações nas lavouras, "esses produtos penetram pela mucosa de pele, do olho, da orelha das pessoas, e inclusive pela respiração".

Wanderlei Pignati é graduado pela Universidade de Brasília – UnB, especialista em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo – USP, mestre em Saúde e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT e doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Fundação Oswaldo Cruz com a tese Os riscos, agravos e vigilância em saúde no espaço de desenvolvimento do agronegócio no Mato Grosso. Estuda a contaminação das águas e as bacias, além de participar de uma pesquisa no município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso do Sul, onde há cinco anos houve um grande acidente de contaminação por agrotóxicos por pulverização. Atualmente, leciona na UFMT.

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Quais são as principais consequências do uso de agrotóxicos para as águas, no caso, os rios e suas nascentes, bacias e os lençóis d'água?

Wanderlei Pignati –
A água é um dos componentes ambientais para onde os resíduos de agrotóxicos vão. Com o uso intensivo de agrotóxicos na agricultura brasileira isso vem se agravando. No ano passado, foram usados cerca de um bilhão de litros de agrotóxicos em nosso país, do tipo que se compra em agropecuárias. Não estou falando do agrotóxico diluído. Um litro de herbicida comprado nesses estabelecimentos é diluído em 100 litros de água para fazer a calda e pulverizar. Isso tem um destino, e parte vai para combater aquilo que se costuma chamar de "pragas da lavoura". São insetos e ervas classificadas como daninhas, como os fungos. Uma parte vai para o solo, outra evapora e vai para o ar. Uma outra condensa e vai para a chuva, e outra ainda vai para o lençol freático. Essa ida dos agrotóxicos para o lençol freático é o que irá deixar resíduos na água potável ou na água dos rios, córregos e do Pantanal , inclusive. Isso terá impactos na saúde dos animais e dos seres humanos.

O grande problema, na verdade, não são as embalagens vazias de agrotóxicos. Claro que o ideal é que elas sejam recolhidas, pois em sua maioria são feitas de plástico. Mas quem se preocupa com a saúde pública e ambiente como um todo se pergunta onde foi parar o que estava dentro desses frascos. Esses produtos vão parar nesses componentes ambientais, inclusive nos alimentos. Resíduos de agrotóxicos podem ser encontrados não só na água, mas nos alimentos, na chuva, ar, solo. Quando falo de resíduos de agrotóxicos nos alimentos, refiro-me inclusive ao leite materno.
Fizemos uma pesquisa e constatamos a presença de agrotóxicos no leite materno de mulheres matogrossenses. Na cidade de Lucas do Rio Verde, interior do Mato Grosso, é usada larga quantidade de agrotóxicos nas culturas da soja, milho e algodão. Isso se reflete nos alimentos produzidos e, inclusive, no leite materno. Vários tipos de agrotóxicos se depositam na gordura e muitos, como os clorados, nunca mais saem dela. É o caso do endosulfan . Quando a mulher produz o leite para amamentar seu filho, esse líquido terá agrotóxico em sua composição. Isso porque o leite é composto por 2 a 3% de gordura. Assim, inclusive a própria criança pode ser prejudicada. A análise de resíduos de agrotóxicos no leite materno é, portanto, muito importante. Foi o que fizemos, analisando dez tipos diferentes desses produtos. Todos eles estavam presentes no leite de 62 mulheres dessa cidade. Isso é muito problemático, pois o alimento que deveria ser o mais puro da nossa vida está também contaminado. Espero que sejam tomadas medidas para que isso não continue a ocorrer.


IHU On-Line – Quais as principais sequelas para a saúde humana provocadas pelos agrotóxicos?

Wanderlei Pignati –
Essa discussão é bastante ampla. Primeiramente, falo sobre as intoxicações agudas por agrotóxicos, que têm aumentado muito no Brasil. Dessas intoxicações, salvamos 99% das pessoas intoxicadas. Exceções ocorrem em casos de que tenha sido ingerida uma quantidade muito grande de produtos tóxicos, como em caso de tentativas de suicídio ou envenenamento proposital de terceiros. Também há os casos extremos em que uma pessoa que aplicou ou preparou os agrotóxicos não fez o uso dos Equipamentos de Proteção Individual – EPIs, intoxicando-se fatalmente.
Mas o grande problema são as intoxicações crônicas, cuja exposição ocorre a baixas doses durante meses e anos. Após um período mais longo de tempo, podem surgir problemas como câncer, descontrole da tireoide e do sistema neurológico, além de diabetes. Especula-se, ainda, que uma das causas do Mal de Parkinson esteja associada ao efeito cumulativo de agrotóxicos. Surdez, diminuição da acuidade visual e outros distúrbios neurológicos também são frequentes. Quando uma mulher está em seus primeiros três meses de gestação e entra em contato com agrotóxicos, pode ocorrer má formação fetal. Portanto, são várias as consequências para a saúde causadas por esses produtos, desde intoxicações agudas até aquelas de caráter crônico. Saliento que os problemas dependem igualmente do tipo de agrotóxico utilizado.


IHU On-Line – Qual é a especificidade do caso de Lucas do Rio Verde em relação ao uso de agrotóxicos?

Wanderlei Pignati –
Não sei se o Mato Grosso é o estado mais crítico do Brasil em termos de uso de agrotóxicos. Dos quase um bilhão de litros desses produtos usados no ano passado no Brasil, o Mato Grosso é o maior consumidor porque é o maior produtor de soja, milho e gado. É preciso lembrar de que, inclusive nas pastagens para o gado, são usados agrotóxicos. Nesse estado se cultiva 50% do algodão brasileiro, produto que utiliza mais agrotóxicos por hectare. O uso intensivo, em média, no Brasil, é de dez litros de agrotóxicos por hectare de soja plantado. Isso abrange fungicidas, herbicidas, inseticidas e dissecante para secar a soja para a colheita. O milho usa em torno de 5 litros de agrotóxico por hectare, enquanto a cana usa em torno de quatro litros. Já o algodão emprega aproximadamente 20 litros dessa substância por hectare. Esse problema é grande no país inteiro, mas no Mato Grosso a dimensão é maior em função de este estado ter a maior produtividade nacional. Em segundo está São Paulo, seguido pelo Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Tocantins e Minas Gerais. Temos uma equipe com a qual fazemos diversas pesquisas, junto da Fiocruz do Rio de Janeiro e divulgamos esses dados.


IHU On-Line – Quais os riscos de contaminação por agrotóxicos na água que bebemos?

Wanderlei Pignati –
Se você tem um grande consumo do princípio ativo glifosato  na região, que é o agrotóxico mais consumido no Brasil, você irá encontrá-lo na água. Há os clorados, que são mais "persistentes" em se desfazerem, como o endosulfan, que ainda não foi banido. A previsão é que isso aconteça somente em julho de 2013. Há, ainda, a atrazina , um herbicida bastante persistente e liberado para uso nas lavouras. Ambos aparecerão na água. É preciso lembrar também dos fungicidas que, se forem usados para combater a ferrugem da soja, irão ser encontrados na água da forma mesma que os outros.
Há, contudo, uma legislação dos agrotóxicos que delimita máximo de contaminação permitida na água. Na verdade, isso nem deveria acontecer. É um absurdo! Como é que se pode permitir algum tipo de agrotóxico na água? Temos que fazer uma análise dos agrotóxicos mais consumidos na região para vermos qual é o tipo de contaminação que vamos supor. Tudo depende da solubilidade do agrotóxico, da sua persistência, se foi usado perto de rios ou córregos, se o lençol freático é profundo ou superficial. Na maioria das vezes há a contaminação desses componentes ambientais em suas mais variadas formas.
O mesmo pode-se dizer dos alimentos que irão conter esses produtos. Todos os tipos de agrotóxicos usados nos alimentos serão posteriormente encontrados neles. A isso chamamos de resíduos nos alimentos. Eles podem ser encontrados no tomate, pimentão, abobrinha, arroz, soja ou milho.


IHU On-Line – Como poderia se constituir um movimento social de vigilância sanitária e ambiental que envolvesse não só entidades do governo, mas a sociedade civil de forma organizada e participativa?

Wanderlei Pignati –
A vigilância em torno dos agrotóxicos existe, de certa forma. Ela limita inclusive o registro, a venda e aplicação dos produtos. A lei regulamenta isso. A maioria dos estados tem suas leis próprias quanto a isso. Contudo, grande parte dessas legislações não são cumpridas. Então, a primeira questão é o cumprimento dessas leis, como no que diz respeito à pulverização perto de rios, córregos, e a pulverização aérea, que nós, médicos sanitaristas, lutamos para proibir. Mesmo assim, existe hoje uma legislação do Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA, a Instrução Normativa n. 2, de 2008, que permite pulverizar agrotóxicos de avião a, no mínimo, 500 metros de distância das nascentes de águas, onde moram populações e em que há criação de animais. Isso, na maioria das vezes, não é respeitado, como ocorre no Mato Grosso. As legislações estaduais quanto à pulverização terrestre constam que o limite é de, no mínimo, 250 metros afastados dessas nascentes, de criação de animais e moradia humana. Mesmo assim, não são respeitadas. Planta-se e pulveriza-se até encostado nas residências, sobretudo em comunidades rurais e nas pequenas cidades do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Sul e no Sul do Paraná. As pulverizações aéreas e terrestres são feitas sem nenhum respeito.

Em segundo lugar, há toda uma discussão a ser feita pela vigilância sanitária nacional e dos estados para tentar proibir os agrotóxicos que já são banidos na União Europeia. Por que estamos consumindo, ainda, o endosulfan, o metamidofós , o 2,4-D  e paraquat ? Esses são os produtos mais consumidos no Mato Grosso.

São mais de 30 tipos de agrotóxicos bastante consumidos no Brasil que são proibidos na União Europeia. Alguns já têm legislação que irá proibi-los, como o endosulfan, que a partir de julho de 2013 será tirado do mercado. O metamidofós sai de circulação a partir de julho de 2012. Mas e os outros? A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa está fazendo a revisão de 14 tipos de agrotóxicos, mas não consegue avançar porque os produtores dessas substâncias entraram com uma ação na justiça. Um juiz federal concedeu liminar exigindo que a Anvisa suspendesse a revisão. Veja o absurdo. O processo iniciado em 2008 ficou mais de um ano parado e foi retomado somente agora. Com toda a dificuldade, a Anvisa vem insistindo no processo.

É preciso haver uma consciência dos grandes produtores de que se está proibido lá fora, aqui deve ocorrer o mesmo. Por que continuar a usar agrotóxicos dessa natureza? Por que é mais barato? Ou por que é mais eficiente? Mas qual é o custo em termos de saúde humana, animal e vegetal, do ambiente como um todo? Precisamos pensar na saúde da água, porque o nosso organismo é composto de 70% de água, e se aquela que consumimos estiver contaminada com agrotóxicos, isso irá prejudicar nosso corpo. Então, repito: é preciso respeitar a legislação e proibir no Brasil os agrotóxicos que já são proibidos lá fora. Também é preciso que a população se conscientize e não consuma produtos que têm agrotóxicos no seu desenvolvimento. Todos os anos o Ministério da Saúde coloca no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos e vê os resultados dos últimos anos. Desde o ano 2000, dos vinte tipos de alimentos analisados, a maioria contém agrotóxicos. Tem que haver uma divulgação mais ampla para a sociedade. A vigilância sanitária só irá funciona se a população se conscientizar e mobilizar para isso. Há uma campanha nacional contra o uso de agrotóxicos lançada no I Simpósio Brasileiro de Saúde Ambiental, em Belém, em dezembro de 2010, com o apoio da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco. A iniciativa chama-se Campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida . A primeira audiência pública aconteceu dia 7 de abril, Dia Mundial da Saúde, no Congresso Nacional.


IHU On-Line – Podemos falar em "uso seguro dos agrotóxicos"?

Wanderlei Pignati –
Não. Essa é outra discussão que precisa ser desmistificada. O uso totalmente seguro dos agrotóxicos é impossível. Os agrotóxicos penetram pela mucosa de pele, do olho, da orelha das pessoas, inclusive pela respiração. Se o trabalhador que aplicar esse produto estiver vestido como um astronauta (porque é assim que se parecem os EPIs criados para proteger os trabalhadores da contaminação por esses produtos), ele quase não será atingido ou contaminado. Isso porque a eficiência do filtro químico é de 80 a 90%, e com as moléculas dos novos agrotóxicos essa eficiência diminui mais ainda, pois há algumas delas que penetram no filtro de agrotóxicos da máscara e prejudicarão quem está realizando a aplicação. O efeito pode levar de cinco a dez anos para ser sentido. Pode não haver um impacto imediato. Mas e a segurança do ambiente, como fica? Será colocado EPI nos peixes, bois, cachorros e plantas que não se quer afetar? Não existe, portanto, uso seguro de agrotóxicos. O ambiente será poluído com substâncias cujo objetivo é matar as "pragas" da lavoura mas, com isso, cria-se todo um ônus ambiental

A luta pela reavaliação de agrotóxicos no Brasil

Segundo Letícia Rodrigues da Silva, gerente de normatização e avaliação da Anvisa, a instituição colocou 14 ingredientes ativos em reavaliação em 2008. Três anos depois, apenas seis reavaliações foram concluídas, sendo que cinco, com ações judiciais.

Por: Patricia Fachin

A reavaliação de agrotóxicos no Brasil ainda faz parte de um processo lentoe frágil. Produtos que receberam a certificação de uso da Anvisa, Ibama e do Ministério da Agricultura somente são reavaliados novamente quando estudos internacionais apontam para riscos à saúde humana. Segundo Letícia, um dos motivos que dificulta este procedimento é a inexistência de investimento para linhas de pesquisa sobre o tema.
"As pessoas que trabalham nos órgãos governamentais têm feito o possível e o impossível para avaliar, regular e controlar esses produtos. Entretanto, temos várias fragilidades", desabafa, em entrevista à IHU On-Line concedida por telefone. Entre as dificuldades, ela aponta o quadro deficitário de funcionários responsáveis pelo procedimento de avaliação e reavaliação dos agrotóxicos. "Nos EUA, que é o segundo maior mercado de agrotóxicos do mundo, as agências de proteção ambiental têm 800 funcionários para avaliar produtos agrotóxicos. No Brasil, por outro lado, se reunirmos todos os técnicos do Ibama, do Ministério da Agricultura e da Anvisa, não somamos o total de 80 técnicos".

Letícia Rodrigues da Silva é especialista em Regulação e Vigilância Sanitária, gerente de normatização e avaliação da Anvisa e responsável pelas reavaliações toxicológicas dos agrotóxicos.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como e por que a indústria de agrotóxicos se proliferou no Brasil?

Letícia Rodrigues da Silva – O uso de agrotóxicos no mundo começou com a Revolução Verde ocorrida na década de 1970 e, no Brasil, por volta de 1975. Nesta época foi desenvolvido o Plano Nacional de Defensivos Agrícolas, que incentiva o uso de agrotóxicos e, inclusive, disponibilizava créditos para produtores rurais que quisessem utilizar esta tecnologia. Indústrias também receberam incentivos para se instalarem no Brasil. A partir disso, se fortaleceu e se disseminou o uso de agrotóxicos no país. Nos anos 1990, houve um movimento mundial de reestruturação dessas empresas e, no final dos anos 2000, aconteceram muitas fusões e incorporações em função do esgotamento da matriz petroquímica. Desde então, muitas dessas empresas químicas começaram a atuar no ramo de sementes transgênicas e aí teve a consolidação de outro tipo de mercado: as empresas que eram grandes ficaram ainda maiores ao adquirirem empresas pequenas. Por volta de 2007 em diante, passou a se ter a entrada de empresas chinesas no mercado de agrotóxicos. Essas indústrias têm fábricas na China e trazem grande parte de seus produtos de lá em função da redução do custo de mão de obra e dos custos de produção desses produtos.
Atualmente, seis empresas são responsáveis por 65% do mercado brasileiro e, treze empresas são responsáveis por 90% do mercado nacional. Isso se repete no âmbito mundial, onde o mercado é ainda mais concentrado: seis empresas são responsáveis por 70% do mercado.

IHU On-Line – Quais são os critérios adotados no Brasil para registrar agrotóxicos? E qual a participação do setor de saúde pública neste processo?

Letícia Rodrigues da Silva – O registro de agrotóxicos é um ato compartilhado entre Ministério da Agricultura, Anvisa e Ibama. O Ministério da Agricultura faz a avaliação de eficácia agronômica dos produtos agrotóxicos; o Ibama faz a avaliação do impacto ambiental desses produtos; e a Anvisa analisa o impacto desses produtos à saúde humana. São exigidos estudos para todas essas avaliações e, na Anvisa, são exigidos  estudos feitos com animais de experimentação para verificar que efeitos esses produtos podem causar à saúde humana. Quando os três órgãos dizem que o produto tem condições aceitáveis, respectivamente em suas áreas de competência, para saúde, para o ambiente e eficácia agronômica, é concedido o registro. Se um dos três órgãos manifesta posição contrária, o produto não pode ser registrado no país.
A lei 7802, de 1989, estabelece alguns requisitos e determina que são proibidos registros de agrotóxicos que tenham características mutagênicas, teratogênicas, carcinogênicas e que causem efeitos hormonais, danos ao aparelho reprodutor etc. Quer dizer, a lei determina alguns critérios para proibir o registro de substâncias inadequadas. Entretanto, os estudos dos efeitos de agrotóxicos são feitos em condições ideais de uso, de temperatura, clima e, quando esse produto passa a ser utilizado no campo, pode apresentar efeitos diferentes: às vezes se mostra ser mais tóxico, tem efeitos que não aparecem nos animais de experimentação, mas aparecem nos seres humanos posteriormente ao uso. Então, há uma limitação científica neste processo. Por mais que se busquem situações realistas de uso, outros fatores podem interferir na exposição de agrotóxicos.

IHU On-Line – Como e com que frequência são feitas as reavaliações toxicológicas dos agrotóxicos no Brasil? Como avalia o processo de reavaliação dos agrotóxicos no país? Ele ainda é dependente de pesquisas internacionais?

Letícia Rodrigues da Silva – As reavaliações toxicológicas são feitas sempre que há detecção de estudos que apontam para riscos à saúde, quer dizer, quando outros países começam a efetuar proibições, restrições e quando organizações internacionais alertam para riscos. Ainda existe um número pequeno de pesquisas sobre produtos agrotóxicos feitas no Brasil, especialmente estudos epidemiológicos, de exposição com trabalhadores. Inexistem linhas de financiamento de pesquisa para isso e, quando se faz pesquisa, encontram-se efeitos relacionados ao uso de agrotóxicos, a ingredientes ativos específicos ou a vários tipos de produtos ou grupos químicos diferentes e efeitos graves à saúde humana. Várias pesquisas estão sendo desenvolvidas no sentido de apontar efeitos de depressão, de transtornos psiquiátricos, dentre outros, em populações expostas a agrotóxicos. Ao fazer a reavaliação de um produto, utilizamos todas as pesquisas feitas em relação a ele. Nesse sentido, a reavaliação é uma salvaguarda. Por outro lado, ela também joga para o órgão público a responsabilidade de juntar os dados dos danos que esses produtos estão causando. Esse processo inverte o princípio da precaução, já que as empresas deveriam assegurar que seu produto apresenta todas as condições de segurança e não o órgão regulador ter que comprovar que o produto causa danos. Esta é uma limitação da lei. Entretanto, a grande maioria de projetos de lei existentes desde 1989 até hoje foram para afrouxar a legislação de agrotóxicos e não para torná-la mais rígida ou restritiva.

IHU On-Line – Quais as principais fragilidades da legislação brasileira em relação à regulação e a reavaliação de agrotóxicos? Como vê a posição do Brasil em relação ao rigor do uso desses produtos?

etícia Rodrigues da Silva – As pessoas que trabalham nos órgãos governamentais têm feito o possível e o impossível para avaliar, regular e controlar esses produtos. Entretanto, temos várias fragilidades e uma delas é o número de técnicos envolvidos na avaliação dos agrotóxicos. Nos EUA, que é o segundo maior mercado de agrotóxicos do mundo, a agência de proteção ambiental têm 800 funcionários para avaliar produtos agrotóxicos. No Brasil, por outro lado, se reunirmos todos os técnicos do Ibama, do Ministério da Agricultura e da Anvisa, não somamos o total de 80 técnicos. Esse é um número pequeno de pessoas envolvidas na regulação e hoje o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Essa é a primeira fragilidade, que chamaria de fragilidade de recursos humanos.
A outra fragilidade é que a lei que rege a questão dos agrotóxicos não determina nenhum prazo para a renovação de seu registro, diferentemente do que ocorre com os registros de medicamentos que, a cada cinco anos, são renovados. Na área de agrotóxicos, uma vez que o registro foi concedido, ele fica concedido para todo o sempre e a única medida feita ao longo do tempo é a reavaliação.
A reavaliação tem se demonstrado um processo lento e demorado porque o órgão governamental é único responsável pela reavaliação. Cabe a ele juntar todas as informações para fazer a reavaliação, publicar uma nota técnica, onde são elencados os estudos que demonstram as inseguranças associadas ao produto, observar o devido processo legal, deixar as notas em consulta pública e, depois, ficar suscetível a pressões políticas e à judicialização do processo. A Anvisa colocou 14 ingredientes ativos em reavaliação no ano de 2008 e até agora conseguimos concluir seis dessas reavaliações, com cinco ações judiciais. Embora o processo já tenha sido concluído do ponto de vista administrativo, ele continua sendo discutido do ponto de vista judicial. Então, os técnicos da Anvisa têm de ficar fazendo notas técnicas, dar suporte técnico para a defesa e a contestação. É um processo muito desgastante. Por isso é importante que haja o controle social dos agrotóxicos. Os estudos da Fiocruz e de diversas universidades demonstram que a contaminação não afeta apenas o trabalhador rural, mas se dissemina entre os consumidores e inclusive por meio de contaminação ambiental da água e do ar. Todos os anos os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos, coordenado pela ANVISA e integrado pelas vigilâncias dos estados, demonstram a contaminação dos alimentos vendidos nos supermercados. Muitas vezes as áreas onde estão inseridas as cidades são muito próximas das áreas de lavouras. Então, por vento e diferentes formas de contaminação, toda a população acaba sendo exposta a esses produtos.
 
IHU On-Line – Segundo notícias da imprensa, no próximo mês, a Anvisa divulgará os resultados anuais do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos, que em 2010 apontou irregularidades em 30% das amostras de produtos agrícolas. Pode adiantar algo?

Letícia Rodrigues da Silva – O Programa de Análise de Resíduos Agrotóxicos é coordenado pela Anvisa e feito por todos os estados da federação. Ele funciona da seguinte forma: os estados coletam amostras de 18 culturas alimentares (batata, banana, cebola etc.) no supermercado; essas amostras são enviadas para laboratórios e eles analisam se os alimentos estão contaminados por agrotóxicos, por qual tipo e em que quantidade.
Não sei dizer qual foi o resultado do plano de 2010, mas esses dados demonstram, de modo contínuo, contaminação de algumas culturas por agrotóxicos. No ano passado, foi detectado um significativo número de irregularidades, tais como uso de agrotóxicos em quantidade superior à permitida, uso de agrotóxicos não autorizados para a cultura específica e o mais grave, que agrotóxicos proibidos no Brasil estão sendo utilizados.

IHU On-Line – A Anvisa tem algum programa para verificar os agrotóxicos falsificados?

Letícia Rodrigues da Silva – Não, porque apenas conseguimos saber a especificação do produto registrado. Não temos como saber quais são as substâncias que existem nos produtos que entram no país por meio do contrabando ou são fabricados no fundo de quintal.
Temos feito fiscalizações nas fábricas e, de 13 empresas fiscalizadas, 11 tinham alterado as formulações sem a autorização da Anvisa. Elas registravam uma formulação e depois substituíam componentes daquela formulação e produziam produtos com outra classe toxicológica.

IHU On-Line – Que atores sociais mais pressionam a Anvisa para regular determinados produtos?

Letícia Rodrigues da Silva – Nós quase não recebemos pedidos por parte da sociedade ou de organizações e movimentos para que os órgãos do governo controlem de forma mais rigorosa essas substâncias. Recebemos frequentemente pedidos para liberação do produto X, Y, Z, de diferentes atores como, por exemplo, cooperativas, sindicatos, prefeituras, parlamentares, empresas. Costumamos dizer que é preciso que a sociedade se aproprie deste tema e diga que risco ela está disposta a correr em face da produtividade, que haja controle social.
Todos os anos surgem pelo menos dois ou três projetos de lei para tirarem as competências da Anvisa e do Ibama. Este ano, tramitou pelo Senado um projeto de lei que propunha que a avaliação dos agrotóxicos fosse feita apenas pelo Ministério da Agricultura. Nesse sentido houve uma manifestação da sociedade.

IHU On-Line – Como o cidadão pode identificar produtos contaminados por agrotóxicos?

Letícia Rodrigues da Silva – Frutas, verduras e legumes produzidos na estação tendem a ter menos agrotóxicos do que aqueles produzidos em estufas. Sempre que possível, o consumidor pode tentar descobrir se os produtos possuem rastreabilidade, quer dizer, saber onde o alimento foi produzido. Em várias redes de supermercados já existe esse sistema de rastreabilidade. Na gôndola onde o produto está, há um número ou uma etiqueta para identificar a sua origem. Quando se verifica uma irregularidade, é possível encontrar quem produziu aquele alimento. Também é importante variar a alimentação e consumir alimentos que possuam certificação de produção orgânica.

IHU On-Line – Até 2012 a Anvisa pretende proibir a produção e comercialização de agrotóxicos que contenham o ativo metamidofós. Quais os riscos deste ativo? E qual sua expectativa em relação a essa possível proibição?

Letícia Rodrigues da Silva – O metamidofós está com um programa de descontinuidade de uso estabelecido para quase todas as empresas. Apenas uma indústria está recorrendo judicialmente e está produzindo o produto no país. As demais já cancelaram as fabricações e a importação também foi cancelada. A comercialização deste ativo ainda está permitida até 2012, ficando mais um prazo para uso e, posteriormente, o uso não será mais permitido. Esse cronograma de descontinuidade foi estabelecido para que não se tenha estoque remanescente do produto e nem incremento de uso ilegal.
O metamidofós está associado à desregulação endócrina, a efeitos imunotóxicos, e causa prejuízos ao desenvolvimento embriofetal. Ele está proibido em países da África, na China, Indonésia, Japão,Paquistão, Comunidade Européia e teve o cancelamento voluntário do registro nos Estados Unidos, após ter sido colocado em reavaliação naquele país.

"O uso de agrotóxicos no Brasil é abusivo, exagerado e incontrolável"

José Juliano de Carvalho entende que a situação atualmente está mais difícil para a agricultura familiar. E quando se fala em integração da agricultura familiar com a indústria, o que se vê é uma relação de subordinação

Por: Graziela Wolfart, Greyce Vargas e Patricia Fachin

"Os agrotóxicos são usados sem nenhum controle pela sociedade brasileira. Seu uso está sob os interesses do que se chama de agronegócio". Essa é a ideia principal defendida pelo professor José Juliano de Carvalho, na entrevista a seguir, concedida por telefone para a IHU On-Line. Professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo – USP, Carvalho tem percebido a destruição e a inviabilização da agricultura familiar não apenas pelo agrotóxico, mas pelo conjunto do modelo do agronegócio. "É preciso que se institua a regulação do agronegócio. Senão, pega-se um investimento público feito para a agricultura familiar ou para áreas de assentamento e deixa-se que essa área seja dominada por monoculturas ligadas ao agronegócio, com uso de agrotóxicos, transgênicos, prejudicando assim todas as pessoas que ali estão".

José Juliano de Carvalho Filho possui graduação e doutorado em Economia pela Universidade de São Paulo, e pós-doutorado pela Ohio State University. Além de professor, integra a Associação Brasileira de Reforma Agrária – Abra.

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Qual sua opinião em relação ao uso de agrotóxicos no Brasil?

José Juliano de Carvalho –
Minha atividade de pesquisa junto das populações camponesas durante muitos anos pôs-me em contato com os efeitos do agrotóxico. Mas o que importa é discutir esse modelo que se chama de agronegócio. Não se trata de uma simples técnica. É um modelo com efeitos perversos para a economia nacional, que nos faz voltar ao passado em relação à exportação de produtos primários e, o pior, com a dependência de poucas empresas multinacionais. O agrotóxico, evidentemente, está ligado à questão das patentes e dos transgênicos. E os efeitos do enorme consumo de agrotóxicos no Brasil, que chega a 5,7 litros de veneno por habitante, estão ligados a esse modelo. Isso tudo está dentro de uma questão maior, a questão agrária, que se caracteriza aqui no Brasil pela concentração fundiária, que está crescendo. Os agrotóxicos são usados sem nenhum controle pela sociedade brasileira. Seu uso está sob os interesses do que se chama de agronegócio. Olhando para o campo, veremos que há um mecanismo que torna o governo refém dos ruralistas. Neste mecanismo está embutida a própria questão macroeconômica, que tem um déficit crescente em contas correntes. Isso implica em pressão para se exportar mais commodities e o governo acaba ficando refém. Basta olhar para o Congresso Nacional e ver que ali há um domínio muito amplo dessas forças, que eu considero as mais retrógradas do país. Tenho visto muito a destruição e a inviabilização da agricultura familiar. Não só por causa do agrotóxico, mas pelo conjunto do modelo do agronegócio. Um caso emblemático no Rio Grande do Sul é a detecção do agrotóxico no leite materno. A mãe, ao amamentar, envenena o filho com o próprio leite. Isso é um absurdo, um descontrole total. Minha opinião sobre o uso de agrotóxicos no Brasil é que é abusivo, exagerado, incontrolável. Ficou muito mais difícil para a agricultura familiar. Quando se fala em integração da agricultura familiar com a indústria, eu vejo mais uma relação de subordinação. O Brasil se sujeita a se entregar à economia mundial num lugar subalterno e sob o domínio de grandes empresas multinacionais. Elas fazem o que querem aqui, sem regulação e com domínio total. E não são punidas por seus crimes.


IHU On-Line – Então o impacto do uso de agrotóxicos pode prejudicar a economia brasileira?

José Juliano de Carvalho –
Penso que sim. E falo do impacto do pacote inteiro do modelo do agronegócio. Existe um eufemismo em torno disso, que vem dos Estados Unidos com o agrobusiness. O modelo inteiro prejudica o agrotóxico, inclusive, visto que ele está junto. É preciso que se institua a regulação do agronegócio. Senão, pega-se um investimento público feito para a agricultura familiar ou para áreas de assentamento e deixa-se que essa área seja dominada por monoculturas ligadas ao agronegócio, com uso de agrotóxicos, transgênicos, prejudicando assim todas as pessoas que ali estão.


IHU On-Line – O Brasil é um dos países que mais utilizam agrotóxicos. O que isso revela sobre a posição brasileira em relação ao futuro da agricultura?

José Juliano de Carvalho –
Isso revela a subordinação brasileira na nova divisão internacional do trabalho. A nós coube voltar nossa pauta de exportação para os produtos primários, vendendo etanol, massa de celulose, soja, sempre com pouco valor agregado. Estamos nos colocando não como o país do futuro, mas como subalternos. Continuaremos sendo periferia.


IHU On-Line – Por que os países em desenvolvimento são os que mais utilizam agrotóxicos?

José Juliano de Carvalho –
Porque eles são dominados pelas empresas, que têm um domínio inclusive sobre as terras. E a tática que essas empresas usam é do jogo mais baixo possível. Fazem de tudo, até suborno. Isso está ligado ao avanço do capital financeiro em todo o mundo, sendo que esses países vão perdendo a capacidade de fazer política. Eles fazem apenas a pequena política.


IHU On-Line – Quais são as alternativas aos agrotóxicos?

José Juliano de Carvalho –
Nós podemos ter uso de química na agricultura, mas tem que ser um uso regulado. O que eu não vejo é alternativa ao modelo do agronegócio. Porque não é um modelo de produção, mas um modelo de domínio econômico, em que nem a reprodução das sementes é mais facultada aos agricultores. Eles têm que pagar pelas sementes e estas implicam no uso do agrotóxico X. É preciso quebrar com o poder de mercado dessas empresas. Um país como o nosso deveria regular a atividade do agronegócio, voltada aos interesses nacionais. Como se podem usar produtos que prejudicam a saúde da própria população trabalhadora?

Agroecologia: um modelo agrícola sustentável

"É preciso desconstruir essa concepção criada de que a produção agrícola dependia do uso de agrotóxicos", diz o agrônomo Rubens Nodari

Por: Patricia Fachin

O Brasil se tornou o maior consumidor de agrotóxicos e o principal incentivador desta prática é o governo, diz Rubens Nodari à IHU On-Line em entrevista por telefone. "As políticas governamentais favorecem o uso de agrotóxicos porque o governo incentiva a utilização desses produtos quando, no financiamento, exige dos agricultores o uso de tecnologias. Ocorre que, para o governo, uso de tecnologias subentende utilização de sementes, fertilizantes químicos, agrotóxicos", reitera.

Rubens Nodari é graduado em Agronomia pela Universidade de Passo Fundo – UPF, mestre em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFGRS e doutor pela University Of California At Davis. Atualmente, é professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina.

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Que relações podemos estabelecer entre a transgenia e o uso de agrotóxicos? Produtos transgênicos ainda exigem o uso de agrotóxicos?

Rubens Onofre Nodari –
Sim. Nos EUA, houve uma diminuição no uso de agrotóxicos, mas, após a liberação da transgenia, o consumo de herbicidas aumentou. No Brasil não foi diferente: depois da liberação do uso de transgênicos, o uso de agrotóxicos cresceu e o país passou a ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Isso também ocorreu na Argentina e onde mais houve liberação de transgênicos.


IHU On-Line – Quais são as razões que levam o Brasil a ser o maior consumidor de agrotóxicos?

Rubens Onofre Nodari –
As políticas governamentais favorecem o uso de agrotóxicos porque o governo incentiva a utilização desses produtos quando, no financiamento, exige dos agricultores o uso de tecnologias. Ocorre que, para o governo, uso de tecnologias subentende utilização de sementes, fertilizantes químicos, agrotóxicos. Dificilmente um banco libera recursos para o custeio agrícola sem atender a esses critérios. Estudos realizados com pequenos agricultores demonstram que a maioria deles usa esses produtos.


IHU On-Line – O uso de agrotóxicos pode prejudicar ou alterar a diversidade biológica?

Rubens Onofre Nodari –
Os agrotóxicos atuam de maneira diferente nas espécies: umas sofrem mais e outras menos. Então, algumas espécies podem ser diminuídas, como os anfíbios, que são suscetíveis a esses produtos.

Além de extinguir algumas espécies, o uso de agrotóxicos irá afetar os processos ecológicos do meio ambiente. As funções ecológicas são mantidas por dois componentes: a presença dos organismos vivos e o processo ecológico em si. Então, quando se rompe a cadeia trófica, rompem-se também os serviços ambientais que estão no ecossistema. Portanto, quando o agrotóxico cai no rio e atinge a cadeia trófica, o rio perde a capacidade de ciclar nutrientes. Essa situação também ocorre no solo, no ar.


IHU On-Line – É possível utilizar agrotóxicos na medida certa?

Rubens Onofre Nodari –
Por definição, o agrotóxico tem a função de inibir ou diminuir o desenvolvimento de seres vivos. Portanto, ele é um veneno e, sendo assim, sempre será prejudicial. Não há hipótese em que a aplicação de agrotóxicos não cause efeitos secundários. O uso dessas substâncias sempre acarretará em efeitos adicionais não desejados.


IHU On-Line – Intensificou-se o uso de agrotóxicos nas florestas brasileiras. Quais os riscos desses produtos para as áreas florestais?

Rubens Onofre Nodari –
Algumas espécies serão prejudicadas porque os agrotóxicos têm a função de inibir enzimas ou bloquear processos anabólicos e metabólicos em organismos vivos. Como nós temos uma biodiversidade imensa e ainda não conhecemos todas as espécies que vivem nas florestas, não sabemos quais serão os danos a essas espécies.


IHU On-Line – Que impactos ambientais o uso de agrotóxicos já causou no Brasil?

Rubens Onofre Nodari –
Nós não temos trabalhos globais para demonstrar os impactos do uso de agrotóxicos no país. Os estudos realizados abordam os impactos de um tipo específico de agrotóxicos em uma espécie determinada. Os EUA desenvolvem mais estudos. Nós sabemos que aumentou o uso desses produtos, mas não os correlacionamos com extermínio de populações ou diminuição de peixes em rios, por exemplo.


IHU On-Line – Quais os desafios da ciência, da pesquisa e da tecnologia em relação aos agrotóxicos?

Rubens Onofre Nodari –
O desafio é encontrar outro sistema agrícola. Esse sistema dependente de químicos, seja na forma de fertilizantes ou agrotóxicos, está com os dias contados. Nós não temos alternativa como espécie humana.


IHU On-Line – Como vê a reação da sociedade civil em relação aos agrotóxicos?

Rubens Onofre Nodari –
A população está desinformada. Se o meio acadêmico, que é informado, não reage, como a sociedade civil, que pouco conhece o assunto, irá reagir? A maior parte dos estudos sobre os efeitos dos agrotóxicos são escritos em inglês e o acesso a essas informações fica restrito a um grupo pequeno de pessoas. De outro lado, o setor do agronegócio tem apoio de políticas públicas para continuar se expandindo. A sociedade não tem informação adequada e não vai se mobilizar porque não sabe se há necessidade de fazer isso e, portanto, continuamos nesse processo de utilizar mais agrotóxicos.

Os técnicos do governo são informados, mas preferem ficar do lado atual de agricultura, que beneficia o uso desses agrotóxicos. Para se ter uma ideia, no segundo governo Lula foi criado um grupo de trabalho que se reuniu na Casa Civil com o objetivo de acelerar o registro de agrotóxicos por equivalência. Ou seja, o governo queria ter mais moléculas à disposição da agricultura. Então, há uma ação deliberada do Estado em favor do uso desses produtos.


IHU On-Line – É em função desse incentivo do governo que os pequenos agricultores também reiteram o discurso de que é importante utilizar agrotóxicos?

Rubens Onofre Nodari –
Sim. Esse discurso foi passado para eles. Durante a Revolução Verde, tanto políticas públicas quanto as faculdades de agronomia ensinavam duas coisas: fazer análise de solo para saber quando é preciso pôr adubo; e usar agrotóxicos porque eles matam as pragas. Esse era o B-A-BÁ das escolas. Essa mensagem foi passada aos agricultores pelas empresas, pelo governo e pelos agrônomos. Como nós vamos dizer para eles que não se pode mais utilizar agrotóxicos?

O ecossistema está tão desequilibrado que, se retirar o agrotóxico, tem de ter um projeto de transição para outro projeto agrícola. Precisa ter uma ação que possibilite ao agricultor fazer uma transição para um processo de produção agroecológico, sem uso de agrotóxicos. Para isso, é necessário um plano, recursos do governo e agrônomos com outra visão agrícola. É preciso desconstruir essa concepção criada de que a produção agrícola dependia do uso de agrotóxicos.


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Confira outras entrevistas concedidas por Rubens Nodari e publicadas na IHU On-Line.

Glifosato: "'todo veneno deveria ser proibido". Entrevista publicada nas Notícias do Dia de 09-04-2010

Mudanças no Código Florestal: 'Isto é suicídio ecológico'. Entrevista publicada nas Notícias do Dia de 29-04-2009

Baú da IHU On-Line

A IHU On-Line já publicou outros materiais sobre o tema dos agrotóxicos.

* Agrotóxicos. Remédio ou veneno? Uma discussão. Edição 296, publicada em 08-06-2009;

* Brasil é o país que mais usa agrotóxicos no mundo. Notícia publicada no sítio do IHU em 08-07-2010;

* Brasil. O maior consumidor de agrotóxicos agrícolas. Entrevista especial com Maria José Guazzelli, publicada no sítio do IHU em 07-06-2009;

* Agrotóxicos. Um problema brasileiro. Entrevista especial com Jean Remy Davée Guimarães, publicada no sítio do IHU em 15-06-2010; 

* 'Precisamos conscientizar a população sobre os efeitos dos agrotóxicos'. Matéria publicada no sítio do IHU em 24-09-2010;

* Agrotóxicos. A herança maldita do agronegócio. Entrevista com Raquel Rigotto, publicada no sítio do IHU em 23-02-2011;


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