quarta-feira, 8 de junho de 2011

Quem está por trás das mortes?

Plácido Júnior*

Vimos nos últimos dias a imprensa falada e escrita destacar os recentes conflitos no campo no Brasil. Nenhuma novidade para a CPT e para as vítimas do agronegócio e do projeto do capital. A Comissão Pastoral da Terra, desde 1985, vem prestando um serviço à sociedade brasileira, com o registro e a devida divulgação dos conflitos e violências cometidas contra os camponeses e as camponesas, através de seu relatório anual: Conflitos no Campo Brasil.

As mortes de José Cláudio e Maria do Espírito Santo, em pleno dia de votação do "novo" Código Florestal, podem ser consideradas, como diz a nota divulgada pela CPT: "Crônicas de mortes anunciadas".

Segundo a nota, "de 2000 a 2011, a CPT tem registrado, em seu banco de dados, ameaças de morte no campo contra 1.855 pessoas. De 207 pessoas há o registro de terem sofrido mais de uma ameaça. E destas, 42 foram assassinadas e outras 30 sofreram tentativas de assassinato. 102 pessoas, das 207, foram ou são lideranças e 27 religiosos ou agentes de pastoral".

Em Pernambuco não é diferente. O setor de documentação da CPT nos informa que, no período compreendido entre 2000 e 2011, a CPT registrou a ocorrência de 52 pessoas ameaçadas de morte. Dentre essas ameaças, uma se concretizou: a de uma liderança indígena da tribo Truká, em 23 de agosto de 2008, no município de Cabrobó.

No mesmo período, ou seja de 2000 a 2011, em Pernambuco foram assinadas 34 pessoas no campo. Dessas, 11 eram lideranças (está incluso aqui duas lideranças indígenas e um dirigente sindical), 11 Sem Terras, sete Indígenas, três Assentados, dois Trabalhadores rurais, um Posseiro e um Assalariado.

O que chama atenção é que a maioria dos assassinatos no campo em Pernambuco ocorreram na Região da Zona da Mata: 18 em um total de 34. Das 52 pessoas ameaçadas de morte entre 2000 e 2011, a maioria se encontra também na Zona da Mata. Das 52 ocorrências de ameaças de morte, 27 foram registradas na Região canavieira, com muitos chamam.

De imediato surge uma pergunta: o que faz esta Região concentrar a maioria dos casos de assassinato e ocorrências de ameaças de morte no campo em Pernambuco, nos últimos dez anos? A concentração de terras, o monocultivo da cana, a impunidade, a não realização de uma ampla e massiva Reforma Agrária, a negação dos direitos básicos aos trabalhadores e trabalhadoras da região, a não garantia dos territórios tradicionalmente ocupados pelos pescadores artesanais e quilombolas. Com certeza, os fartos recursos públicos destinados a esse modelo de agricultura baseado no monocultivo e na concentração de terras tem alimentado a fornalha que mutila e assassina vidas.

A nota da CPT está mais que certa, pois "o que se assiste em nosso país é uma contra-reforma agrária e é uma falácia o tal desmatamento zero. O poder do latifúndio, travestido hoje de agronegócio, impõe suas regras afrontando o direito dos posseiros, pequenos agricultores, comunidades quilombolas e indígenas e outras categorias camponesas. Também avança sobre reservas ambientais e reservas extrativistas". Quem está por trás das mortes?

* José Plácido da Silva Júnior é geografo e agente da Comissão Pastoral da Terra em Pernambuco
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