sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Feijão Transgênico em discussão

Aldo Rebelo está fazendo escola. Basta ver a carta do presidente da CTNBio Edílson Paiva encaminhada esta semana ao ministro Aloizio Mercadante, com cópia para a presidente Dilma Rousseff e outros órgãos. O tom é de defesa nacionalista do feijão transgênico e de inconformidade com as críticas do Consea ao produto desenvolvido pela Embrapa, ora sob análise da CTNBio.
 
Para deleite de Rebelo, Paiva critica o "dissimulado alinhamento" do Consea a "ONGs estrangeiras atuantes no Brasil", embora não se tenha notícia até o momento de qualquer organização internacional que se manifestou sobre o tema. Mas discutir a nacionalidade das organizações é abraçar a ideologia e fugir da questão. Trata-se de um produto novo, nunca produzido nem consumido em nenhum lugar.
 
A nova semente, que resiste a um vírus, foi testada a campo em apenas 3 localidades do país, mas seu pedido de liberação comercial é para cultivo no país todo. Não se tem dados sobre como a nova variedade interage com os demais ecossistemas brasileiros. A modificação genética foi inserida em apenas um tipo de feijão, mas se aprovada ela poderá ser cruzada com qualquer outro, como o carioquinha, o preto, o manteiga e assim por diante. Quem ler o processo da Embrapa verá que foram obtidos resultados não esperados no cruzamento da planta modificada com essas outras variedades. Essa é uma questão de biossegurança e que deve ser respondida. Estranho seria se questões assim não fossem levantadas.
 
Na carta, Paiva antecipou seu voto em processo ainda sob análise na comissão que preside, afirmando ser este um "motivo de orgulho nacional" e que pode "se transformar numa fonte de royalties para o país".
 
Eremildo, o idiota, a quem Elio Gaspari volta e meia se refere para explicar determinadas situações, acharia que não passou de coincidência o fato de o agora engajado defensor do transgênico verde e amarelo Zander Navarro ter distribuído em sua lista de e-mails a carta da CTNBio, com data de 01/08, sem papel timbrado oficial nem a assinatura de Paiva, sendo que o ofício encaminhado ao ministro é de 02/08. Os argumentos ali presentes remetem o leitor sem escalas a artigo do professor gaúcho publicado na Folha de São Paulo (07/07) que se refere ao feijão transgênico como "Um feito digno de manchetes, que nos enche de orgulho." No mesmo artigo, também para deleite de Rebelo, o professor Navarro escreve que o parecer das duas principais entidades científicas do país sobre o código florestal é uma "intervenção inútil" que "parece ter sido feito às pressas".
 
Paiva repete a três por quatro que a CTNBio é coisa para especialistas, que lidam com biologia molecular, e critica com a mesma frequência a presença, por exemplo, de advogados na Comissão. Mas para um sociólogo como Navarro ele bem que abriria exceção.
 
O ministro Mercadante esteve na última reunião da CTNBio e defendeu a pluralidade de visões neste que ele considera "um espaço de disputa onde deve prevalecer a transparência". O pedido de liberação do feijão transgênico da Embrapa deve ser votado agora no dia 11, e a controvérsia está na mesa.
 

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