segunda-feira, 13 de julho de 2009

Pesquisador francês revela mais evidências sobre os efeitos nocivos do herbicida glifosato à saúde humana


O jornal argentino Página/12, que em abril havia divulgado uma pesquisa da Universidade de Buenos Aires indicando efeitos letais do glifosato a embriões de anfíbios, publicou no final de junho uma extensa entrevista com Gilles-Eric Seralini, pesquisador francês que há vários anos se dedica ao estudo sobre agrotóxicos e transgênicos. As informações apresentadas por Seralini não só confirmam as descobertas da pesquisa argentina, como comprovam a letalidade do glifosato para células embrionárias humanas, entre outros problemas.
Para quem não se lembra, o glifosato é o princípio ativo do herbicida Roundup, da Monsanto, usado em grandes quantidades nas lavouras de soja transgênica Roundup Ready.
Apresentamos aqui um pequeno resumo da matéria:
Seralini é especialista em biologia molecular, professor da Universidade de Caen (França) e diretor do Comitê de Pesquisa e Informação sobre Engenharia Genética (Criigen). Em 2005, descobriu que algumas células da placenta humana são muito sensíveis ao herbicida Roundup (da empresa Monsanto), inclusive em doses muito inferiores às utilizadas na agricultura.
Em 2007, Seralini publicou alguns avanços sobre este tema. “Trabalhamos em células de recém-nascidos com doses do produto cem mil vezes inferiores às que qualquer jardineiro comum está em contato. O Roundup programa a morte das células em poucas horas”, declarou, à época, à agência de notícias AFP, ressaltando que “os riscos são, sobretudo, para as mulheres grávidas, mas não só para elas”.
Em dezembro passado, a revista científica Pesquisa Química em Toxicologia (Chemical Research in Toxicology), da American Chemical Society, publicou seu novo estudo, em que constatou que o Roundup é letal para as células humanas. Segundo o trabalho, doses muito abaixo das utilizadas em campos de soja provocam a morte celular em poucas horas. “Mesmo em doses diluídas mil vezes, os herbicidas Roundup estimulam a morte das células de embriões humanos, o que poderia provocar malformações, abortos, problemas hormonais, genitais ou de reprodução, além de diversos tipos de cânceres”, afirmou Seralini em seu laboratório na França.
O artigo, de 11 páginas, focalizou-se em células humanas de cordão umbilical, embrionárias e da placenta. A totalidade das células morreu dentro das 24 horas de exposição às variações do Roundup. “Estudou-se o mecanismo de ação celular diante de quatro formulações diferentes do Roundup (Express, Bioforce ou Extra, Gran Travaux e Gran Travaux Plus). Os resultados mostram que os quatro herbicidas Roundup e o glifosato puro causam morte celular. Confirmado pela morfologia das células depois do tratamento, determina-se que, inclusive nas concentrações mais baixas, ele causa uma grande morte celular”.Também confirmou o efeito destrutivo do glifosato puro, que, em doses 500 vezes menores às usadas nos campos, induz à morte celular.
“(...) Sou especialista nos efeitos dos transgênicos, e sabemos que o câncer, as doenças hormonais, nervosas e reprodutivas têm relação com os agentes químicos dos transgênicos. Além disso, esses herbicidas perturbam a produção de hormônios sexuais, pelo qual são perturbadores endócrinos”, afirma Seralini.
Como não poderia deixar de ser, desde que começou a divulgar suas pesquisas nesta área, Seralini foi alvo de perseguição e de campanha de difamação patrocinada pelas multinacionais de biotecnologia.
Visando desqualificar o pesquisador e suas descobertas, a Monsanto divulgou um comunicado dizendo que “Os trabalhos efetuados regularmente por Seralini sobre o Roundup constituem um desvio sistemático do uso normal do produto com o fim de denegri-lo, apesar de se ter demonstrado sua segurança sanitária há 35 anos no mundo”.
A antiguidade do produto no mercado é o mesmo argumento utilizado na Argentina pelos defensores do modelo de agronegócio. As organizações ambientalistas reforçam que essa defesa tem seu próprio beco sem saída. O PCB (produto químico usado em transformadores elétricos e produzido, dentre outros, pela Monsanto) também foi utilizado durante décadas. Recebeu centenas de denúncias e foi vinculado com quadros médicos graves, mas as empresas continuavam defendendo seu uso baseado na antiguidade do produto. Até que a pressão social obrigou os Estados a realizarem estudos e, com os resultados obtidos, proibiu-se seu uso. “Com o glifosato, acontecerá o mesmo”, respondem as organizações.
“Há 25 anos trabalho com as perturbações dos genes, das células e dos animais provocadas por medicamentos e contaminantes. Advertimos o perigo existente e propomos estudos públicos. Mas, em vez de aprofundarem estudos e nos reconhecerem como cientistas, querem tirar nossa importância acadêmica chamando-nos de “militantes ambientalistas”. Sabemos claramente que o ataque vem de empresas que deverão retirar seus produtos do mercado se os estudos forem feitos”, denuncia Seralini, que, hoje, adverte sobre o efeito sanitário não apenas dos agrotóxicos, mas também dos alimentos transgênicos e de seus derivados.

Leia a íntegra da reportagem, traduzida para o português por Moisés Sbardelotto, no site do Instituto Humanitas Unisinos:

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