quinta-feira, 15 de março de 2012

Salário Maternidade de 6 meses

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul - FETRAF-SUL lança campanha para a garantia do Salário Maternidade de 6 meses para as mulheres da agricultura familiar.

Abaixo assinado busca sensibilizar o governo para essa questão.



sexta-feira, 9 de março de 2012

Pesquisadores suíços confirmam efeito letal de toxina Bt sobre joaninhas

Pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça (ETH), em Zurique, confirmaram a descoberta anterior de que a toxina Bt Cry1Ab produzida por plantas de milho transgênico aumenta a mortalidade de larvas jovens de joaninha de duas pintas (Adalia bipunctata L.) em testes de laboratório. Esses insetos são típicos "organismos não alvo" que supostamente não seriam afetados pelo milho transgênico. Além disso, são insetos benéficos, que promovem o controle biológico de outras pragas.
 
Em 2009 a equipe de pesquisadores liderados pela Dra. Angelika Hilbeck publicou o estudo original, que foi incluído, juntamente com muitas outras pesquisas, entre as provas utilizadas pelo governo alemão para justificar o banimento do plantio comercial de milho transgênico que expressa a toxina testada.
 
Não demorou para que a pesquisa começasse a ser atacada pelos defensores dos transgênicos, que em fevereiro de 2010 publicaram um conjunto de artigos na revista "Transgenic Research" acusando o estudo de ser baseado em "pseudo-ciência" e apresentando pesquisas próprias com o objetivo de desmentir o trabalho de Hilbeck.
 
Agora, em 15 de fevereiro de 2012, a equipe da Dra. Hilbeck publicou os resultados de testes complementares que confirmam as descobertas publicadas em 2009.
 
Os pesquisadores suíços também investigaram porque as pesquisas que buscavam desmentir as descobertas não puderam repetir os primeiros resultados, e chegaram a uma simples conclusão: "Mostramos que os protocolos aplicados por Alvarez-Alfageme et al. 2011 eram significativamente diferentes daqueles usados em nossos primeiros estudos, e muito menos propensos a detectar efeitos adversos de toxinas do que o estudo de 2009, assim como dos nossos experimentos complementares", explicou Hilbeck. "Quando testamos os protocolos de Alvarez-Alfageme et al. 2011 com organismos alvo susceptíveis ao Bt, no caso a lagarta do cartucho, eles também não foram afetados pela toxina Bt – isso claramente desqualifica o método para avaliar efeitos negativos do Bt em organismos não alvo".
 
Os autores da nova pesquisa destacaram ainda que as pesquisas que apresentam resultados que aparentemente sustentam os argumentos da ausência de riscos dos transgênicos recebem muito pouco escrutínio, aceitando-se, comumente, ciência de baixa qualidade. Por exemplo, crítica comparável à que atacou a pesquisa da Dra. Hilbeck não foi difundida em casos em que o organismo selecionado para testes foram larvas deChrysopidae, que sem dúvida não eram capazes de ingerir a toxina Bt oferecida – portanto, fornecendo resultados do tipo "falso negativo".
 
Embora o Departamento de Proteção Ambiental do governo dos EUA (EPA, na sigla em inglês) tenha reconhecido há alguns anos a inadequação daChrysopidae para experimentos de avaliação de riscos de lavouras transgênicas, estudos com o inseto ainda constituem a base para a aprovação de lavouras transgênica Bt e são considerados "ciência rigorosa" por autoridades europeias.
 
"É surpreendente que as autoridades europeias, após implementarem a legislação de biossegurança, que é baseada no Princípio da Precaução e que demanda pesquisas de avaliação de risco ecológico cientificamente robustas e acompanhamento por duas décadas, ainda se fiem em protocolos sistematicamente falhos e em dados produzidos e promovidos pela indústria de biotecnologia e seus cientistas colaboradores", declarou o Prof. Brian Wynne, do Centro de Estudos dos Aspectos Econômicos e Sociais da Genômica (Cesagen), da Universidade de Lancaster, no Reino Unido.
 
"A inútil controvérsia a respeito dos experimentos com a joaninha chama atenção para a necessidade do estabelecimento de protocolos e de pesquisas de avaliação de riscos ambientais relevantes. Instamos as autoridades europeias a superar sua confiança na expertise de apenas um setor – dominado pela indústria – ao estabelecer padrões para a aprovação de organismos transgênicos. Além disso, é necessária uma revisão das autorizações comerciais vigentes para o cultivo de plantas transgênicas.", concluiu o Dr. Hartmut Meyer, coordenador da Rede Europeia de Cientistas para a Responsabilidade Social e Ambiental (ENSSER).
 
Extraído de:
 

quinta-feira, 8 de março de 2012

quarta-feira, 7 de março de 2012

08 de Março Dia da Mulher


Lembramos com muito carinho neste 08/03 de todas as mulheres que constroem a Agricultura Familiar brasileira, essas mulheres nem de longe são frágeis, são sim delicadas, mas são lutadoras, infelizmente na nossa sociedade, muitas vezes elas são vistas como inferiores.

A essas guerreiras que merecem a nossa admiração o nosso carinho e o nosso respeito.

Desejamos um Feliz Dia da Mulher!

Que ele seja festivo mas também
de reflexão e reconhecimento da importância delas na nossa vida.

Emater/RS apresenta novos números da safra de grãos 2011/2012 no Estado

 Os novos números da safra de grãos 2011/2012 foram apresentados pela Emater/RS-Ascar, nesta quarta-feira (07), durante café da manhã com a imprensa na Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque. No relatório, destacam-se para a safra de verão, as condições meteorológicas registradas em fevereiro, que foram um pouco melhores que em janeiro, quando a deficiência hídrica foi intensa em praticamente todo o Estado. 

Perdas 
O levantamento realizado pela Emater/RS-Ascar entre os dias 20 e 24 de fevereiro considerou as informações de 360 escritórios municipais, cobrindo 80% da área cultivada com arroz, 60% com feijão, 90% com milho e 87% com soja. As perdas de mais de R$ 5 bilhões nesta safra, comparadas com a do ano anterior, e de pouco mais de R$ 3,6 bilhões, calculadas a partir da média histórica dos últimos 10 anos, "não geram um impacto muito negativo para a economia gaúcha, já que o PIB agropecuário do RS é de cerca de R$ 280 bilhões", avaliou o titular da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), Ivar Pavan. Para ele, a agricultura familiar do Estado "merece todo o apoio do Governo, para a recuperação imediata de sua economia." 

Pavan se diz convencido de que o Governo acertou em eleger a Extensão Rural como a principal estratégia para fortalecer o desenvolvimento do Estado. Ele salientou o aumento dos investimentos do Executivo gaúcho na Extensão Rural. "Em 2010, foram R$ 90 milhões. Em 2011, R$ 120 milhões e, em 2012, são R$ 153 milhões, demonstrando que temos compromisso com a agricultura familiar", afirmou. 

Convênios 
Na ocasião, foram assinados também convênios que garantem a capacitação dos agricultores familiares, a organização da cadeia da canola e a viabilização e incremento do Espaço da Família Rural, do Pavilhão da Agricultura Familiar e do Recanto Temático que, nesta edição da Feira, trata da "Energia do Cooperativismo", valorizando o Ano Internacional e o Estadual do Cooperativismo. 

Participaram da solenidade o secretário Ivar Pavan, o presidente da Cotrijal, Nei Mânica, o presidente e os diretores Técnico e Administrativo da Emater/RS, Lino De David, Gervásio Paulus e Valdir Zonin, representantes da Diretoria do Sicredi e o diretor presidente da BSBios, Erasmo Carlos Battistella, e autoridades locais, além da Imprensa. 

Entre os convênios assinados, estão um Termo de Cooperação Interinstitucional entre SDR, Emater/RS-Ascar e Cotrijal, um Termo de Cooperação Técnica entre Emater/RS-Ascar e BSBios para o fomento e organização da cadeira da canola no Estado, e dois Protocolos de Cooperação Interinstitucional com o Sicredi.  

Impacto
Para o presidente da Emater/RS, Lino De David, a assinatura dos convênios "representa oportunidades para a qualificação da participação da Emater na feira, assim como a parceria com as cooperativas de crédito demonstra a preocupação em capacitar os agricultores gaúchos, colocando a agricultura familiar no patamar que merece", afirmou. Sobre os números da safra e de perdas, De David analisa que o impacto vai além das macroculturas. "O problema não termina quando acaba a seca", pois, além da perda de peso dos animais, da falta de água para o abastecimento e a irrigação de hortigranjeiros e frutas, há a necessidade de saldar as dívidas dos créditos e financiamentos.
"Precisamos estar atentos, pois o problema do agricultor não termina quando começa a chover. Para amenizar essa situação, há um conjunto de medidas federais e estaduais que buscam manter o agricultor familiar disposto a acreditar que a próxima safra pode ser melhor", disse De David.

Parcerias 
O presidente da Cotrijal, Nei Mânica, lembrou que todos os anos a Expodireto apresenta inovações e, "este ano, o mais importante é a assinatura do convênio de cinco anos com a SDR, Emater/RS-Ascar e Cotrijal, ampliando a parceria com o Governo do Estado, hoje indispensável". Para Mânica, o espaço da Emater/RS-Ascar e da SDR é um diferencial que mostra o potencial da agricultura familiar. Saul Rovadoscki, presidente do Sicredi Região da Produção, falou sobre a importância da parceria com a Emater/RS-Ascar, pois a grande maioria dos associados é de pequenos produtores. "Não basta dar crédito, é necessário qualificar e qualificar o agricultor, para que eles possam ampliar sua produtividade", disse. 

O diretor presidente da BSBIOS, Erasmo Battistella, ressaltou o compromisso com a agricultura familiar. "Adquirimos a matéria-prima de mais de 11 mil famílias de agricultores familiares. Isso justifica a renovação do nosso convênio com a Emater, para melhorarmos a produção de canola", observou. Já o prefeito de Não-Me-Toque, Antônio Piva, parabenizou "o importante e qualificado trabalho que a Emater desenvolve no Estado e pela parceria na Expodireto, demonstrando todo o potencial da agricultura familiar no Pavilhão e na Casa da Família Rural". 

Dados por cultura
Arroz - A produtividade média deverá ser de 6,8 mil kg/ha (-0,88%), com uma produção total de 7,46 milhões de toneladas, uma diferença de -7,45% em relação à expectativa inicial e -16,58% em relação à safra passada, quando, segundo o IBGE, foram colhidos 8,94 milhões de toneladas. No momento, a colheita atinge 13% das lavouras. 

Feijão - A produtividade deverá ser de 1.012 kg/ha, projetando uma produção de 69.533 toneladas, ante as 81,6 mil toneladas estimadas inicialmente, ou -25,25% se comparadas com a safra passada (93 mil toneladas). A colheita está praticamente encerrada.

Milho - A produtividade média deverá ser de 2,6 mil kg/ha. Esses números projetam uma produção de 3,05 milhões de toneladas para esta safra, o que representa, até o momento, uma diferença de -42,58% em relação à estimativa inicial (5,3 milhões de toneladas) e -47,27% comparando-a com a safra 2011 (5,78 milhões toneladas).

Soja - Com uma produtividade média de 1.738 kg/ha, há uma expectativa de colheita de 7,1 milhões de toneladas. Até o momento, essa produção é 39,% menor do que a obtida no ano passado (11,7 milhões de toneladas). A cultura está em início de colheita. 

Texto: Aline Rodrigues e Adriane Bertoglio Rodrigues
Edição: redação Secom (51) 3210-4305
 

terça-feira, 6 de março de 2012

A grande contradição brasileira, artigo de Leonardo Boff

Mais e mais cresce a convicção, inclusive entre os economistas seja do stablisment seja da linha neokeynesiana, de que nos acercamos perigosamente dos limites físicos da Terra. Mesmo utilizando novas tecnologias, dificilmente poderemos levar avante o projeto do crescimento sem limites. A Terra não aguenta mais e somos forçados a trocar de rumo.

Economistas como Ladislau Dowbor entre nós, Ignace Sachs, Joan Alier, Herman Daly, Tim Jack e Peter Victor e bem antes Georgescu-Roegen incorporam organicamente o momento ecológico no processo produtivo. Especialmente o inglês T. Jack se celebrizou pelo livro "Prosperidade sem crescimento"(2009) e o canadense P. Victor pelo "Managing sem crescimento"(2008). Ambos mostraram que o aumento da dívida para financiar o consumo privado e público (é o caso atual nos paises ricos), exigindo mais energia e uso maior de bens e serviços naturais não é de modo algum sustentável.

Os Prêmios Nobel como P. Krugman e J. Stiglitz, porque não incluem explicitamente em suas análises os limites da Terra, caem na armadilha de propor como saída para a crise atual um maior gasto público no pressuposto de que este produzirá crescimento econômico e maior consumo com os quais se pagarão mais à frente as astronômicas dívidas privadas e públicas. Já dissemos à saciedade, que um planeta finito não suporta um projeto desta natureza que pressupõe a infinitude dos bens e serviços. Esse dado já é assegurado.

O que Jack e Victor propõem é uma "prosperidade sem crescimento". Nos paises desenvolvidos o crescimento atingido já é suficiente para permitir o desabrochar das potencialidades humanas, nos limites possíveis do planeta. Então chega de crescimento. O que se pode pretender é a "prosperidade" que significa mais qualidade de vida, de educação, de saúde, de cultura ecológica, de espiritualidade etc. Essa solução é racional mas pode provocar grande desemprego, problema que eles resolvem mal, apelando para uma renda universal básica e uma diminuição de horas de trabalho. Não haverá nenhuma solução sem um prévio acerto de como vamos nos relacionar com a Terra, amigavelmente, e definir os padrões de consumo para que todos tenham o suficiente e o decente.

Para os países pobres e emergentes se inverte a equação. Precisa-se de "crescimento com prosperidade". O crescimento é necessário para atender as demandas mínimas dos que estão na pobreza, na miséria e na exclusão social. É uma questão de justiça: assegurar a quantidade de bens e serviços indispensáveis. Mas simultaneamente deve-se visar a prosperidade que tem a ver com a qualidade do crescimento. Há o risco real de que sejam vítimas da lógica do sistema que incita a consumir mais e mais, especialmente bens supérfluos. Então acabam agravando os limites da Terra, coisa que se quer exatamente evitar. Estamos face a um angustiante círculo vicioso que não sabemos como faze-lo virtuoso sem prejudicar a sustentabilidade da Terra viva.

A contradição vivida pelo Brasil é esta: urge crescer para realizar o que o governo petista fez: garantir os mínimos para que milhões pudessem comer e, por políticas sociais, serem inseridos na sociedade. Para as classes já atendidas, precisa-se cobrar menos crescimento e mais prosperidade: melhorar a qualidade do bem viver, da educação, das relações sociais menos desiguais e mais solidariedade a partir dos últimos. Mas quem vai convecê-los se são violentamente cooptados pela propaganda que os incita ao consumo? Ocorre que até agora os governos apenas fizeram políticas distributivas: repartiram desigualmente os recursos públicos. Primeiro garantem-se 140 bilhões de reais para o sistema financeiro a fim de pagar a dívida pública, depois para os grandes projetos e somente cerca de 60 bilhões para as imensas maiorias que só agora estão ascendendo. Todos ganham mas de forma desigual. Tratar de forma desigual a iguais é grande injustiça. Nunca houve políticas redistributivas: tirar dos ricos (por meios legais) e repassar aos que mais precisam. Haveria equidade.

O mais grave é que com a obsessão do crescimento estamos minando a vitalidade da Terra. Precisamos de um crescimento mas com uma nova consciência ecológica que nos liberte da escravidão do prudutivismo e do consumismo. Esse é o grande desafio para enfrentar a incômoda contradição brasileira.

Leonardo Boff escreveu Sustentabilidade: o que é e o que não é, Vozes, Petrópolis 2012.

Artigo originalmente publicado por Leonardo Boff em seu blogue pessoal.

EcoDebate, 28/02/2012

[ O conteúdo do EcoDebate é "Copyleft", podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Contra uma avalanche verde, aposta nos territórios do futuro


Em 2001, o dicionário Houaiss não dava nenhuma notícia do que poderia ser "economia verde" – ao contrário da economia de escala, de guerra, de mercado, de palitos, dirigida, doméstica, e muitas outras. Ainda agora, passados dez anos, o conceito não pode ser compreendido com a clareza dos dicionários. No entanto, já faz parte de documentos da ONU, acompanhados ou não da definição necessária aos conceitos que determinarão nosso jeito de viver. O documento "zero" da Rio+20 é um bom exemplo: o adjetivo "verde" acompanha o substantivo "economia" quase 40 vezes em 20 páginas. No entanto, não achamos ali a definição para o novo conceito.
As possíveis definições constam em outras peças diplomáticas e no discurso de corporações e governos. E não parecem apontar para um modo de viver radicalmente diferente do atual, mas para o aprofundamento da forma de produção e consumo dominante no mundo, que gera desigualdades entre países e povos, além de múltiplas crises, como a ambiental.
Pablo Sólon, que foi embaixador da Bolívia na ONU, lembrou que no momento da convocatória, a Rio+20 deveria ter sido, fundamentalmente, um espaço de avaliação dos avanços de cumprimento da Agenda 21 (acordada na Eco 92) e, quem sabe, motivadora de seu fortalecimento. A economia verde, no primeiro momento, era um tema em discussão. Algo secundário. Por pressões de diversos atores, especialmente países da União Européia, se transformou em central – mesmo, segundo Sólon, não tendo aceitação unânime entre as nações.
Na opinião dele, a falta de definição do termo "economia verde" para a Rio+20 é um enorme risco. E não considera que estejamos falando apenas de um novo slogan: "Os entusiastas dizem que economia verde é tudo: separar o lixo, indústrias limpas, estar com Pachamama, vender créditos de carbono, tudo isso pode ser economia verde. E por isso não definir esta economia no documento. Se aceitamos isso, assinamos um cheque em branco", avalia o ex-embaixador, explicando que a Rio+20 não será o lugar de fechar tratados. "O que querem é o mandato para formular a arquitetura institucional necessária a criar este mercado de bens intangíveis. Depois, o processo vai se dar praticamente sozinho", vaticina. E segue: "Se não temos uma posição categórica de repúdio à economia verde seremos cúmplices do lançamento de um dos maiores negócios de roubo da natureza que será lançado no Rio de Janeiro, em junho. É muito complicado porque há muitos interesses e um mercado multimilionário que não vai resolver nada, mas eles esperam, vai reverter as taxas decrescentes de lucro do sistema capitalista".
E foi em busca de uma "outra economia" que representantes de entidades e movimentos sociais "críticos à economia verde" se reuniram no seminário .
Além de expor alguns elementos que os fazem "críticos", concluíram que para encontrar um novo modo de viver não é preciso sair do zero. Como sintetizou Maria Emília Pacheco, da Fase, não faltam práticas à margem da hegemonia, além de conceitos em construção – o bem-viver, os bens-comuns, o decrescimento –; valores sendo reforçados, como a justiça ambiental; e lógicas que não se regem pela subordinação direta,  como a economia do cuidado – para a qual apontam as feministas – e a economia da reciprocidade, seguida por comunidades tradicionais e camponesas ao redor do globo. Também a insurgência de novos direitos, estes coletivos, em oposição aos mecanismos de propriedade privada ou intelectual, podem ser levados em conta, somados aos direitos dos agricultores, dos povos e da natureza (como já figura em duas constituições latino-americanas).
O desafio, portanto, estará em tornar visíveis práticas tão plurais quando um encontro mundial do tamanho da Rio+20 aponta, exclusivamente, para a velha economia que vivemos, agora pintada de verde.
Avalanche verde
Algumas constatações eram consensuais àqueles que chegaram ao seminário realizado em uma das pequenas salas da antiga casa do centro de Porto Alegre que abriga o Instituto dos Arquitetos do Brasil. Uma delas, talvez a mais forte, era de que vivemos um ciclo de crises nunca antes experimentado pela humanidade.
Jean Marc von der Weid, da Agricultura Familiar e Agroecologia (ASPTA), fez uma leitura do quadro atual acentuando as questões ligadas à agricultura: "parecemos olhar para as profecias de Nostradamus. As crises parecem estar se integrando e se fortalecendo umas às outras". O economista enumerou alguns aspectos para mostrar como o modelo hegemônico de agricultura simplesmente é insustentável em longo prazo: os recursos minerais usados para fabricação de adubos nitrogenados estão desaparecendo; o modelo é completamente baseado em petróleo e não faltam questionamentos sobre os limites de sua exploração; a degradação do solo chega a níveis alarmantes: calcula-se que já atinge 22% das terras férteis do mundo. "Desaparecem ainda as culturas agrícolas tradicionais. Isso tem uma significação que vai além da perda ambiental e do material genético. Perdemos também o conhecimento. Esse é um problema grave para o futuro", preocupa-se, lembrando que neste cenário, questões antigas e não resolvidas no Brasil, como a reforma agrária, são ainda mais necessárias.
Pablo Bertinant, do programa Cone Sul Sustentável, também falou do momento de crise, salientando os problemas da matriz energética mundial, ainda concentrada no petróleo, diante do aquecimento global. E sintetizou outro ponto de acordo – aliás, desde a convocatória do seminário: a crítica à economia verde. "Hoje a lógica de resolução de problemas é a mesma [da Eco 92], mas com um passo a mais, que é a economia verde", afirmou. Para Bertinat, calcular o "capital natural" e argumentar que a medida é necessária para que as corporações tenham interesse na preservação é um erro. Afinal, revela, "a finalidade deste processo é encontrar outros meios para a acumulação de capital com o objetivo de superar a atual crise financeira. E fica claro que nada muda no sistema atual".
Lúcia Ortiz, do Núcleo Amigos da Terra Brasil, seguiu no mesmo sentido, enfatizando uma aceleração dos processos e também a diminuição de transparência no que diz respeito às negociações e conferências das Nações Unidas. Lúcia também destacou que as corporações, dentro e fora da ONU, reafirmam seu poder. E que se antes a apropriação era dos bens públicos – via privatização – agora é dos bens comuns – via abertura de mercados na economia verde. Para ilustrar a percepção de Lúcia, podemos voltar ao documento base da Rio+20: em diversas ocasiões o Rascunho Zero enfatiza "o importante papel do setor privado no caminho para o desenvolvimento sustentável".
Mas a ação dos governos, que têm por trás tantos interesses e com diferentes níveis de força, também foram questionados. Camila Moreno, da Fundação Heinrich Boell, analisa que "sem a ação autoritária e impositiva dos governos as corporações não poderiam fazer nada". Ela enumerou diversos processos – seja as sínteses e documentos elaborados por agências da ONU, por coalizões de bancos ao por agências de consultoria que atuam junto à corporações e governos – que mostraram o avanço da chamada economia verde como realidade, agora em processo de regulamentação – inclusive no Brasil, por exemplo com a tramitação de lei para o pagamento por serviços ambientais.
Vale dizer que já existe, inclusive, uma metodologia para medir o valor de mercado do que antes era considerado bem comum: ar, água, biodiversidade, etc. A metodologia está em um estudo chamado Teeb (A economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade, na sigla em inglês), vinculado ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e lançado na última Conferência da Convenção sobre Diversidade Biológica em 2010. "O Brasil pode transformar, por exemplo, o carbono estocado na floresta Amazônica em uma variável macroeconômica. Ou seja, a economia verde brasileira 'vai bombar' porque subitamente a água doce vai ser somada às riquezas nacionais. Nada contra contabilizar. A questão é: dentro de qual projeto isso se insere e para quais fins? E os fins são lançar isso em um mercado de commodities e, pior ainda, de financeirização e de uma série de produtos financeiros atrelados a estas commodities".
Outro ponto especialmente destacado por Pablo Sólon é o papel do Brasil na conferência. O ex-diplomata boliviano lembra que o país será mais que um simples anfitrião, inclusive porque também quer "negociar seu pedaço" em um novo negócio no qual pode ser naturalmente privilegiado pelos recursos que estão em seu território. A isso, o canadense Pat Mooney, do ETC Group, adicionou que a pressão sobre o Brasil estará duplicada na Rio+20 visto que hoje brasileiros ocupam dois cargos chaves na ONU nesta área: José Graziano da Silva é diretor geral da FAO, órgão para alimentação e portanto, a cargo de parte da diversidade biológica do mundo e, agora, a cargo de outra parte, Bráulio Ferreira de Souza Dias, recém-escolhido como Secretário Executivo do Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica. Mooney também lembrou que o mundo não pára de girar depois da Rio+20. Assim, aconselhou: "devemos estar atentos a outros encontros mundiais, como a próxima Conferência das Partes sobre Biodiversidade Biológica, onde podem ser concretizados os mecanismos para o mercado verde".
Aposta nos "Territórios do Futuro"
Se o contexto geral é de crise – e do ponto de vista ambiental nunca se viu tanta degradação como nos últimos 20 anos – também podemos apontar como consenso entre os críticos à economia verde que está clara a necessidade de denúncia sobre os responsáveis pela tragédia anunciada.
Mas denunciar como? Denis Monteiro, da Articulação Nacional de Agroecologia, aponta um dos caminhos. Para ele, mais que levantar números é preciso mostrar à sociedade a gravidade do problema a partir do concreto: as secas, as enchentes das grandes cidades, as doenças, a poluição, os agrotóxicos que contaminam alimentos, água, solo. "Tudo isso já é sentido com clareza pelas populações em seus territórios e mostra que as crises realmente estão aí", comenta. Do mesmo modo, também as soluções estão nos territórios, como aponta Jean Pierre Leroy, da FASE, ao tratar de um conceito com crescente importância, o de bens comuns, que inclusive figura no documento de convocação da Cúpula dos Povos. Para ele, também os territórios podem ser considerados como bens comuns, aqueles bens, materiais ou não, geridos por grupos para bem de todos, lugares de conflito e relações sociais.
Na opinião de Jean Marc, da ASPTA, a diferença entre hoje e há 20 anos está, entre outros pontos, na solidez das práticas que respeitam as pessoas e o ambiente, como a produção de alimentos saudáveis na agroecologia. São muitas as experiências espalhadas pelo mundo. Soma-se a isso que são numerosas as pesquisas sérias, inclusive financiadas pela própria ONU, que comprovam serem soluções para os problemas ambientais e sociais que enfrentamos atualmente. É preciso tornar visíveis essas práticas que também se materializam nos territórios. No entanto, a questão não se restringe a visibilidade: ao argumentar que a agroecologia só é possível com reforma agrária e campesinato, Jean Marc nos lembra que o debate sobre as alternativas está no plano político.
Jean Marc não foi o único a enfatizar a importância da agricultura familiar para o futuro do planeta. Enquanto Pat Mooney desfiou uma enorme quantidade de estatísticas que mostram como a agricultura familiar é melhor diante das mudanças climáticas por ser mais flexível e adaptável, preservar a biodiversidade, conservar os solos, etc; Silvia Ribeiro, também do ETC Group, foi taxativa ao mencionar o trabalho dos campesinos, que ao contrário do que pode sugerir o marketing das empresas, ainda alimenta certa de 80% da população mundial: "A agricultura ecológica é imprescindível".
Fátima Mello, da Fase, também aposta na materialidade para denunciar e mostrar as alternativas. Por isso construir na Cúpula das Povos um "Território do Futuro", mostrando as práticas que apontam para outra economia. "Mas é preciso que a sociedade saiba que o que chamamos alternativo, como a agroecologia, nunca será massificado se isso não passar pela política", afirmou lembrando que lutas como o levante de Chiapas no México em 94 e coalizões contra o Nafta, que desembocaram nos protestos de Seatle  em 1999 e no Fórum Social Mundial no início do século, partiram também de situações muito concretas e mudaram o contexto político depois de uma década. A Cúpula dos Povos, na opinião de Fátima, pode ser um ponto importante para a acumulação de força política, para novas convergências e para abrir um grande diálogo com a sociedade sobre os rumos possíveis. Não é por outro motivo, comenta, que o Comitê Facilitador da Cúpula dos Povos, do qual faz parte, escolheu realizar a Cúpula no Aterro do Flamengo – quando o evento oficial da ONU será no Riocentro, distante da área central do Rio de Janeiro. Com isso, o debate sobre outra economia segue para um espaço reconhecidamente público, que poderíamos considerar bem comum da cidade.
O seminário "Rumo à Rio+20: Por uma outra economia" for organizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA); Agricultura Familiar e Agroecologia (ASPTA); Fase – Solidariedade e Educação; Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN); Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES); Núcleo Amigos da Terra Brasil; e Sempreviva Organização Feminista (SOF).

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Grupo de Estudos em Organizações lança site de consumo colaborativo

Como parte da atividade autogestionada chamada: Eu, você e a sustentabilidade: Construindo pontes entre a frugalidade e o macromarketing, o Grupo de Estudos em Organizações (GESTOR) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) fará o lançamento de um site de consumo colaborativo, chamado: Leio, logo troco!
http://leiologotroco.blogspot.com/. Acontece na quinta-feira (dia 26), às 9h.

O que é o movimento:
Baseado na ideia de rede de reciprocidades, Leio, logo troco é uma iniciativa de pessoas independentes com o objetivo de estimular o hábito da leitura nas pessoas e o contato com novos temas e assuntos. Não há uma organização central das ações. Cada um pode ser parte dessa rede de doações anônimas. Sabe aquele livro que trata de um tema tão interessante e que você adoraria compartilhar com outra pessoa mas está guardado no fundo de uma caixa, todo empoeirado e esperando para ser lido por alguém? Por que não doá-lo? Basta deixá-lo em um banco de praça, no parque, na calçada, no ônibus que alguém vai achá-lo e junto com o livro, você deixa uma mensagem para a pessoa que "recebe" desejando-lhe uma ótima leitura e que ela faça o mesmo por alguém. É simples! Assim você já estará participando dessa rede anônima de pessoas que querem ver um mundo melhor. As chances desse livro ser lido será muito maior que se tivesse numa prateleira. Com essa simples iniciativa, você não estará apenas estimulando a leitura mas compartilhando emoções e divulgando aquele assunto pelo qual você se interessa tanto.
Esta iniciativa faz parte de um movimento de pós-graduandos que buscam não somente promover discussões dentro da universidade a respeito de estilos de vida solidários, colaborativos e sustentáveis, mas também promover a participação da comunidade e, acima de tudo, criar ações práticas que tenham impactos positivos na sociedade.


Fonte: http://leiologotroco.blogspot.com/

“Transgênicos para quem?” será lançado durante FST

Os impactos dos organismos geneticamente modificados são abordados sob as dimensões agronômica, ecológica, cultural, social e política em "Transgênicos para quem? Agricultura, Ciência, Sociedade", publicação que reúne artigos de diversos pesquisadores, brasileiros e franceses. O livro será lançado no próximo dia 28, no Fórum Social Temático 2012, em Porto Alegre (RS).

A obra foi organizada por Magda Zanoni, bióloga, socióloga e pesquisadora do laboratório Dynamiques Sociales et Recomposition des Espaces (Centro Nacional de Pesquisa Científica CNRS, França); e por Gilles Ferment, mestre em ecologia e gestão ambiental, e consultor do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (NEAD/ MDA).

O lançamento terá a participação de Gilles Ferment; Paulo Brack, biólogo e mestre em botânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo e mestre em economia rural pela UFRGS, todos autores da publicação; além de Guilherme Abrahão, coordenador executivo do NEAD, e Romário Rosseto, representante da Via Campesina.

"Transgênicos para quem?" está apresentado em três partes. A primeira aborda as incertezas científicas inerentes ao uso das biotecnologias modernas de reprogramação dos seres vivos, e seus possíveis efeitos nocivos ao meio ambiente e à saúde humana. A segunda parte, “Transgênicos: O necessário enfoque multidisciplinar”, se divide em mais três temas que discutem os embates agronômicos, ecológicos, políticos, institucionais, jurídicos, econômicos e sociais dos transgênicos. A última parte do livro, “Atores sociais: resistências e cidadania”, discute o papel da sociedade civil no debate do uso dos transgênicos.

A publicação oferece uma diversidade de análises, destacando pontos de vista de agricultores familiares, cientistas internacional e nacionalmente conhecidos, estudantes, associações, cooperados e ativistas. O objetivo, segundo os organizadores, é trazer uma reflexão sobre a capacidade dos transgênicos de resolver as dificuldades atuais e futuras com as quais a sociedade e os agricultores familiares estão confrontados.

“Transgênicos para quem?” integra a coleção NEAD Debate e está disponível para download gratuito no Portal NEAD: http://www.mda.gov.br/portal/nead/nead-debate/download_orig_file?pageflip_id=7478565.

Serviço:
Lançamento do livro “Transgênicos para quem? Agricultura, Ciência, Sociedade”
Data: Dia 28 de janeiro de 2012
Horário: às 15h.
Local: Casa de Cultura Mario Quintana, sala C2. Rua dos Andradas, 736 - Centro Histórico de Porto Alegre. Fórum Social Temático 2012

Fonte: Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD/ MDA)