segunda-feira, 27 de abril de 2009

INCA alerta sobre riscos à saude dos produtores de fumo


O agricultor é seduzido pela indústria do tabaco, pelas facilidades e vantagens econômicas. Porém, a cultura do fumo é a cultura da morte, alerta a médica toxicologista do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Silvana Rubano Barreto Turfe.


Um estudo epidemiológico realizado pelo Instituto, no município de Paraíso do Sul, no Rio Grande do Sul, alerta sobre os riscos de doença para os produtores de fumo em todo o País. Este será um dos temas do Seminário de Diversificação na Agricultura Familiar,que acontecerá de 4 a 6 de maio, no Canal da Música, em Curitiba (PR).


Silvana Rubano Barreto Turfe faz também outro alerta. Não vamos nos iludir. A lavoura do fumo é a cultura da morte para o agricultor, para o consumidor. Não para o dono da indústria. Nem o próprio governo, que ganha dinheiro com os impostos cobrados junto ao setor, se beneficia disso, pois gasta o dobro com a saúde das pessoas atingidas, afirma a médica, que é coordenadora de uma pesquisa feita pelo Inca com pequenos produtores de Paraíso do Sul, município localizado a 223 quilômetros de Porto Alegre, na região central do Rio Grande do Sul. Nessa localidade, destacam-se as culturas do fumo e arroz, seguidos por milho, soja, feijão e hortigranjeiros.


Promovido pelo Governo do Paraná, por meio da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento (Seab), e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Seminário discutirá alternativas à produção e geração de renda diversificada nas pequenas propriedades fumicultoras. A expectativa é de que 500 pessoas participem do evento. Aproximadamente 300 delas irão em caravanas de agricultores familiares de municípios do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.


Pesquisa


Com cerca de 7 mil habitantes distribuídos numa área de 341 quilômetros, a formação étnica dos produtores no município de Paraíso do Sul, em sua maioria, é de alemães e portugueses. Uma das preocupações do trabalho realizado com estes agricultores, segundo a médica toxicologista, foi a de avaliar a incidência de câncer de pele, pela exposição constante dos produtores ao sol, assim como a utilização e manuseio dos agrotóxicos industriais na lavoura do fumo.


Desenvolvida entre outubro e dezembro de 2007, a amostragem realizada por agentes comunitários entrevistou 2.248 pessoas em 1.581 domicílios. Cerca de 80% das pessoas ouvidas tinham trabalho direto com a fumicultura e depois com a lavoura de arroz. Do total de propriedades pesquisadas, 82% são áreas em sua maior parte com o cultivo do fumo e 61% dos entrevistados são também donos das suas áreas.


Também foram levantados itens referentes à escolaridade: 78% têm apenas nível fundamental. A média de idade dos pesquisados girou em torno dos 43 anos, sendo que o início na atividade agrícola da maioria começou aos 15 anos. Outro dado relevante diz respeito à participação das mulheres na lavoura do fumo, sendo percentualmente maioria nas faixas de idade entre 30 e 60 anos.


Manuseio de agrotóxicosA pesquisa feita pelo Inca apontou que cerca de 40% dos agrotóxicos utilizados na lavoura do fumo são preparados pelos próprios agricultores. Outro detalhe recorrente desse manuseio é o alto índice de problemas de saúde e outros sintomas causados pelo trabalho direto com a fumicultura.


Segundo o relato dos entrevistados, 25% apresentaram algum tipo de intoxicação, sendo que 5,2% dos agricultores já tiveram que ser internados para tratamentos médicos. Sintomas frequentes entre os produtores de fumo pesquisados são dores de cabeça, fraqueza, palpitações do coração, dificuldades para respirar, enjôos, tonteiras, náuseas e falta de apetite.


Ainda entre a amostragem feita, verificou-se que 18% dos entrevistados tiveram algum tipo de depressão, independentemente da faixa etária. Também a incidência do câncer de pele, cerca de 3% dos relatos, foi notada pela amostragem do Inca. A maioria dos trabalhadores nas lavouras só utilizam boné para se proteger sol.


Segundo a médica do Inca, a amostragem feita em Paraíso do Sul é um reflexo do que acontece em outras regiões do País que também se dedicam ao cultivo do fumo. “Temos uma realidade que precisamos detalhar melhor. Não é tarefa fácil. A disposição do trabalho está ligada diretamente ao mercado.


Para os agricultores, a fumicultura é uma alternativa economicamente viável, pois a indústria garante o plantio e dá seguro para desastres como a seca. "Mas os próprios agricultores não se mostram orgulhosos em plantar tabaco”, diz Silvana Turfe, que complementa: "certamente eles preferem alternativas econômicas mais viáveis e que dêem a eles e às suas famílias tranquilidade para o futuro.


Nas próximas semanas o Inca estará realizando outro diagnóstico. Agricultores de três municípios dois do Rio Grande do Sul e um do Paraná - que trabalham com o cultivo do fumo serão escolhidos para testes de coleta de sangue. “Estaremos realizando novos testes para analisarmos os indicadores dos níveis de nicotina na saúde do trabalhador. Buscamos desta forma traçar um perfil mais próximo da realidade para esclarecer e orientar da melhor maneira possível esse segmento da população”, diz Silvana Turfe.


Com informações SEAB/PR

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