sexta-feira, 11 de maio de 2012

Suícidio de adolescentes entre povos indígenas


Na quarta-feira 09 de maio é apresentado um estudo que analisa um fenômeno preocupante e pouco conhecido: o alto número de suicídios na população indígena da América Latina.
Embora a população da região tem uma baixa taxa de suicídio em todo o mundo, o suicídio de jovens indígenas em particular, leva as taxas entre os diferentes grupos da população da América Latina.
Isto foi revelado por "suicídio indígena adolescente. Três estudos de caso ", que analisa comparativamente casos entre os jovens, povos indígenas awajún (Peru), Guarani (Brasil) e Embera (Colômbia).
O texto foi publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Agência Espanhola de Cooperação para o Desenvolvimento Internacional (AECI) e do Grupo de Trabalho Internacional para Assuntos Indígenas (IWGIA).
A investigação começou a partir de um comentário feito pelo Comitê sobre os Direitos da Criança observou em 2009 que "em alguns Estados-partes, taxas de suicídio entre crianças indígenas são significativamente mais elevados do que crianças não indígenas"
No mesmo ano, o livro "A situação global dos povos indígenas", publicado pela Organização das Nações Unidas coloca o suicídio de jovens indígenas no contexto de discriminação, a marginalização, a colonização ea perda traumática de estilos de vida tradicionais.
O Fórum Permanente sobre Questões Indígenas das Nações Unidas ecoou essa preocupação e recomendou que o UNICEF iniciar uma investigação.
A pesquisa foi realizada com o apoio do Grupo de Trabalho Internacional para Assuntos Indígenas e enfatizou a captar e transmitir a visão dos jovens para buscar uma melhor compreensão da contingência dolorosa.
O volume registra as informações preocupantes dos escritórios locais de saúde concordam que a taxa de suicídio entre adolescentes tem aumentado de forma alarmante.
A discriminação contínua contra indígenas, mudanças drásticas no seu ambiente, a violação sistemática dos seus direitos e impotência das decisões que afetam seu desenvolvimento, causar indivíduo situações traumáticas e as conseqüências coletivas.
Uma resposta a estas situações de desesperança é o aumento de mortes por suicídio entre crianças e jovens. Alguns dos povos indígenas, como os Guarani do Brasil, atingindo valores 30 vezes superiores à média nacional.
O livro reconhece as limitações da informação disponível que não medir a magnitude do problema. No entanto, os dados oficiais e privadas necessitam de melhor investigação e medidas preventivas.
Sem dúvida, o documento representa um esforço inicial para entender, de uma perspectiva cultural, o que acontece em algumas pessoas que levam suas filhas para escolher o suicídio como uma resposta para seus problemas.
Instituições patrocinadoras também esperamos fornecer informações úteis para as pessoas afetadas e incentivando-os a assumir uma postura pró-ativa, para mostrar a seriedade de um problema que pode interferir com seus planos de vida.
Ele também tenta chamar a atenção para os Estados a assumirem as suas próprias responsabilidades na redução de danos, prevenção e erradicação desse grave problema.
Miguel Hilario, um funcionário do UNICEF para as questões indígenas, destacadas na apresentação do livro que os governos muitas vezes não têm a perspectiva política para alcançar adequadamente as populações indígenas.
Informado dos esforços do UNICEF para tentar obter informações quantitativas e qualitativas sobre o suicídio na adolescência e continua a apoiar a investigação que dão pistas para reverter o grave problema.
Hilary, que são as pessoas Shipibo indígenas do Peru, reconheceu e agradeceu as preocupações institucionais da IWGIA e Lourdes Maria Alcantara, antropólogo Brasil, para a visibilidade da questão da vigilância necessária e oportuna esforços para proporcionar a juventude indígena uma vida decente.
O estudo coordenado por Alejandro Parellada IWGIA foi desenvolvido no Peru por Irma Tuesta, Garcia Malena, Pedro Garcia e da Comissão sobre Saúde e Nutrição ODECOFROC federação.
No Brasil participou Indianara Ramires, Maria de Lourdes Beldi e Zelik Trajber. Na Colômbia, Lina Marcela Tobon, Patricia Tobon e Jenzera Negociação Coletiva.

Fonte: Servindi

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Estudos apontam que aumento do câncer segue ritmo do lucro com agrotóxicos

Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST




Dois estudos que associam o uso de agrotóxicos ao surgimento do câncer na população brasileira foram lançados na semana passada. 

O dossiê feito pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde aponta que um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado.

O estudo foi feito a partir da análise de amostras coletadas em todas as 26 estados do Brasil, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2011. 

Estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) sobre o câncer relacionado ao trabalho, revela que há em torno de 500 mil novos casos da doença por ano, e muitos desses casos ocorrem por contaminação por agrotóxicos (seja na sua aplicação e exposição pelos trabalhadores nas lavouras, seja no acúmulo de veneno nos alimentos). 

O estudo afirma que os venenos agrícolas devem estar no centro da preocupação da saúde pública, devido ao grande número de estudos anteriores que apontam o potencial cancerígeno dos agrotóxicos, além da ocorrência de outros agravos relacionados a esses produtos. 

Uma série de agrotóxicos comprovadamente causa câncer, como o DDT/DDE, o 2,4-D, o lindane, o clordane, o agente laranja, o aldrin, o dieldrin, o alaclor, a atrazina, o glifosato, o carbaril, o diclorvos, o dicamba, o malation, o MCPA e o MCPP ou mecoprop. 

O estudo relaciona câncer de mama, estômago e esôfago, cavidade oral, faringe e laringe e leucemias ao uso dos agrotóxicos. 

Essas substâncias produzidas por grandes empresas transnacionais do agronegócio
contaminam os alimentos consumidos e causam doenças nos trabalhadores que que aplicam os produtos nas lavouras.

De acordo com o estudo, a população rural é uma das mais afetadas, pois é o setor mais exposto aos agrotóxicos. Por fim, os venenos também são responsáveis por contaminar as águas e tornar terras inférteis.

Indústria do agrotóxico

Apesar de todos os efeitos negativos apontados por estudos, a indústria dos agrotóxicos não pára de crescer.

Dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostram que, entre 1990 e 2010, o Brasil se tornou o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Nesse período, o mercado brasileiro de agrotóxicos cresceu 576%, dando um lucro de US$ 7,3 bilhões às empresas produtoras de venenos. 

Sob o discurso de acabar com a fome do mundo por meio do aumento da produtividade, o agronegócio se utiliza dos agrotóxicos para controlar pragas causadas pelo próprio modelo, baseado na monocultura.

Ao plantar apenas uma cultura em larga escala, o agronegócio acaba com a diversidade local, o que dá origem a várias pragas, que demandam a utilização dos venenos para ser extintas. Além disso, a legislação brasileira permite a comercialização e uso de diversos compostos químicos que já são proibidos em outros países, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, cujas leis são mais rígidas. Segundo a Anvisa,14 agrotóxicos comercializados no país são comprovadamente prejudiciais a saúde e já foram proibidos em outros países.  

A maior utilização dos agrotóxicos se dá nas lavouras das commodities. Em 2010, a soja utilizou 44,1% de todos os venenos do país; algodão, cana-de açúcar e milho foram responsáveis por 10,6%, 9,6% e 9,3%, respectivamente. 

As plantações de outras culturas representam 19% do consumo total. Como as commodities são tratadas como qualquer mercadoria, o intuito do agronegócio e do uso abusivo de agrotóxicos não é acabar com a fome, mas obter lucro. 

Crescimento desenfreado

Por que os agrotóxicos dominaram a produção rural brasileira? Segundo cartilha lançada pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, a chamada “Revolução Verde” imposta pela Ditadura Militar abriu a porta para a entrada dos venenos no Brasil. 

Com essa “revolução”, a agricultura do Brasil foi aberta para a exploração de empresas transnacionais, que venderam aos latifundiários máquinas responsáveis por expulsar boa parte dos camponeses, aumentar a concentração de terra e a pobreza, além dos agrotóxicos para o controle das pragas na lavoura.

A “Revolução Verde” buscou apagar da memória as formas antigas de proteção das lavouras, substituindo-as pelos agrotóxicos. Esses venenos se tornaram, de lá para cá, um dos pilares para o modelo de desenvolvimento agrário adotado pelo Brasil, o agronegócio. 

A criação e uso das sementes transgênicas também incentiva o consumo de agrotóxicos, pois estas sementes são resistentes a um tipo de veneno específico produzido pela mesma empresa que vende as sementes. 

Transição Agroecológica 

O que se fazer para reverter este quadro? A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, assim como o dossiê da Abrasco, apontam o modelo agroecológico não só como alternativa ao agronegócio, mas também ao uso dos venenos. 

A campanha propõe o resgate das técnicas naturais de proteção das lavouras, que foram deixadas para trás com a imposição do modelo do agronegócio. 

É possível, segundo a cartilha, que agricultores que utilizam agrotóxicos realizem uma “transição agroecológica”, na qual gradualmente parem de utilizar os venenos, pois quanto mais agrotóxico se aplica, mais caro é o gasto na produção, o que aumenta a dependência do agricultor para com as grandes empresas. Além disso, o modelo agroecológico propõe que se plante diversas culturas na mesma terra, de modo a se preservar a diversidade, o que diminui a incidência de pragas.

Abaixo, algumas das técnicas naturais sugeridas pela Campanha para proteção da lavoura:

EXTRATO DE FOLHA DE NIM

Secar e moer folhas de nim. Colocar 60g de folhas de nim em 1 litro de água. Deixar em repouso por 8 horas. Coar e aplicar na forma de pulverizações para controle de pragas.

CALDA DE FUMO

Picar 100g de fumo e colocar em meio litro de álcool. Acrescentar meio litro de água e deixar curtir por 15 dias. Depois dissolver 100g de sabão neutro em 10 litros de água e acrescentar a mistura. Aplicar na forma de pulverizações para controle de vaquinhas, cochonilhas, lagartas
e pulgões. 

CALDA DE FUMO COM PIMENTA

Colocar 50g de fumo picado e 50g de pimenta picante dentro de 1 litro de álcool. Deixar curtir por uma semana. Misturar em 10 litros de água com 250g de sabão neutro ou detergente. Aplicar na forma de pulverizações para o controle de vaquinhas, lagartas e cochonilhas e insetos em geral.

CALDA DE CEBOLA

Colocal 1kg de cebola picada em 10 litros de água. Curtir por 10 dias. Coar e colocar 1 litro deste preparado em 3 litros de água para aplicar na forma de pulverizações. Age como repelente aos insetos como pulgões, lagartas e vaquinhas.

CRAVO DE DEFUNTO

Colocar 1kg de folhas e talos de cravo de defunto em 10 litros de água. Ferver por meia hora deixando de molho por duas horas. Coe e pulverize, visando o controle de pulgões, ácaros e algumas lagartas.

CALDA DE CAMOMILA

Colocar 50g de flores de camomila em um litro de água. Deixar de molho por 3 dias, agitando 4 vezes por dia. Coar e aplicar 3 vezes na semana, evitando doenças fúngicas.

ARMADILHA COM LEITE

Utilizar estopa ou saco de aniagem, água e leite. Distribuir no chão ao redor das plantas a estopa ou saco de aniagem molhado com água e um pouco de leite. Pela manhã, virar a estopa ou o saco utilizado e coletar as lesmas e caracóis que se reuniram embaixo para serem queimadas e enterradas em um buraco.

LEITE CRU E ÁGUA

Pulverizar sobre as plantas uma solução de água com 5 a 20% de leite de vaca sem pasteurizar para o controle do oídio, doença que ataca diversas hortaliças. O oídio é também conhecido como “cinza” porque causa grandes manchas brancas acinzentadas principalmente nas folhas e nos ramos.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Dossiê da Abrasco alerta sobre impacto dos agrotóxicos na saúde


###########################
POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
###########################
A Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) lançou no último final de semana, durante o Congresso Mundial de Alimentação e Nutrição em Saúde Pública (WNRio 2012), um dossiê sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde dos brasileiros. O documento, elaborado por representantes de vários grupos temáticos da Associação, tem como objetivo sensibilizar, por meio de evidências científicas, as autoridades públicas nacionais e internacionais para a construção de políticas públicas que possam proteger e promover a saúde humana e dos ecossistemas impactados por esses produtos químicos.
"O dossiê é um alerta à sociedade e ao Estado brasileiro. Registra e difunde a preocupação de pesquisadores, professores e profissionais com a escalada do uso de agrotóxicos no país e a contaminação do ambiente e das pessoas dela resultante, com severos impactos sobre a saúde pública", afirma Luiz Augusto Facchini, presidente da Abrasco. Além dos efeitos imediatos, como intoxicação e morte, os efeitos crônicos podem ocorrer meses, anos ou até décadas após a exposição, manifestando-se em várias doenças como cânceres, malformação congênita, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais.
"Nos últimos três anos o Brasil vem ocupando o lugar de maior consumidor de agrotóxicos no mundo. Os impactos à saúde pública são amplos porque atingem vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais. Tais impactos são associados ao nosso atual modelo de desenvolvimento, voltado prioritariamente para a produção de bens primários para exportação", afirmou Fernando Carneiro, do GT Saúde e Ambiente da Abrasco, que coordenou a elaboração do documento.
O documento cita dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Observatório da Indústria dos Agrotóxicos da UFPR, divulgados durante o 2º Seminário sobre Mercado de Agrotóxicos e Regulação, realizado em Brasília em abril de 2012, mostrando que enquanto nos últimos dez anos o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, o mercado brasileiro cresceu 190%. Em 2008, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e assumiu o posto de maior mercado mundial de agrotóxicos. O resultado dessa crescente dependência dos agrotóxicos e fertilizantes químicos é que um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado, segundo análise de amostras coletadas em 26 Unidades Federadas do Brasil, realizadas pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Anvisa (2011).
O dossiê também traz informações detalhadas sobre outros temas, como a contaminação da água por agrotóxicos no país e a nova Portaria do Ministério da Saúde (2.914/2011) que regulamenta os parâmetros de potabilidade da água, estabelecendo os limites de resíduos para 27 tipos de agrotóxicos, 15 produtos químicos inorgânicos (metais pesados), 15 produtos químicos orgânicos (solventes) e 7 produtos químicos secundários da desinfecção domiciliar, além de permitir o uso de algicidas nos mananciais e estações de tratamentos.
"A ampliação do número de substâncias químicas listadas na Portaria que define os critérios de qualidade da água para o consumo humano reflete, ao longo do tempo, a crescente poluição do processo produtivo industrial que utiliza metais pesados e solventes, do processo agrícola que usa dezenas de agrotóxicos e fertilizantes químicos e da poluição residencial que utiliza muitos produtos na desinfecção doméstica. Esta ampliação pode levar a uma cultura de naturalização e consequente banalização da contaminação, como se esta grave forma de poluição fosse legalizada.", diz o documento. O argumento apresentado em seguida evidencia o tamanho do problema que envolve a contaminação da água potável: "Por outro lado, porque monitorar menos de 10% dos ingredientes ativos oficialmente registrados no país? Se seria inviável incluir na legislação o monitoramento de todos eles – cerca de 600, é razoável aprovar o registro destes biocidas, abrigados no paradigma do 'uso seguro'?",
O estudo também apresenta uma classificação e descrição dos efeitos e/ou sintomas agudos e crônicos relacionados aos diferentes grupos de agrotóxicos, bem como aborda a questão dos desafios para a ciência nesse campo – discutindo, por exemplo, as muitas lacunas de conhecimento que são evidenciadas quando se trata de avaliar a multiexposição ou a exposição combinada de agrotóxicos. "A grande maioria dos modelos de avaliação de risco servem apenas para analisar a exposição a um princípio ativo ou produto formulado, enquanto que no mundo real as populações estão expostas a mistura de produtos tóxicos cujos efeitos sinérgicos (ou de potencialização) são desconhecidos ou não são levados em consideração.", ressalta o dossiê. O documento também questiona o conceito da Ingestão Diária Aceitável (IDA), através do qual estudos experimentais isolados e extrapolações matemáticas determinam valores "aceitáveis" de exposição humana aos produtos tóxicos.
Ao final do documento são apresentados alguns desafios para as políticas públicas de controle e regulação de agrotóxicos e para a promoção de processos produtivos saudáveis. A agroecologia recebe um tratamento de destaque, sendo abordada como uma "como uma estratégia de promoção da saúde".
O dossiê termina com uma lista de 10 propostas da Abrasco de "ações concretas, viáveis e urgentes voltadas para o enfrentamento da questão do agrotóxico como um problema de saúde pública".
Trata-se de um documento extremamente rico, recheado de informações importantes e atualizadas, que servirá tanto para qualificar o debate e a militância que luta contra o modelo dominante de agricultura que contamina as pessoas e o ambiente, como, esperemos, para influenciar os formuladores e gestores de políticas públicas relacionadas ao tema.
Leia na íntegra o dossiê da Abrasco – "Um alerta sobre os impactos dos Agrotóxicos na Saúde".
A segunda parte do dossiê, que terá como tema "Agrotóxicos, Saúde e Sustentabilidade", será lançada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 20), na Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, que acontecerá entre 20 e 22 de junho.
Com informações da página da Abrasco.